quinta-feira, 28 de julho de 2011

O descanso do guerreiro




Brandiu a espada o nobre guerreiro
da verdade fiel guardião
em lutas, não poucas
se afadigou na liça
em dor o forte coração

Ei-lo agora a ouvir a voz:
vem descansar bravo soldado!
Sem resistência em assaz manobra
é conduzido às nobres plagas

A voz que lhe chama ao áureo lar
é a mesma que um dia ouviremos
quer em vida ou na morte
ante o ressoar da trombeta 
Vigiemos!


Escrevi este poema em homenagem ao Pastor John Stott. Um homem que jamais negociou os valores da fé. Um homem de Deus!

terça-feira, 26 de julho de 2011

O terrorista de Oslo está a servir-se de nós


O homem que matou 76 pessoas na Noruega para assinar um manifesto xenófobo é inteligente. Não só preparou o atentado, nos seus mais ínfimos detalhes, como planeou o episódio seguinte. Breivik escolheu ser preso, sem oferecer resistência à polícia quando esta, finalmente, chegou até ele. A decisão, deliberada, de sobreviver ao confronto inicial com as autoridades pretende espoletar uma nova fase do seu projecto: a propaganda.

Nós, jornalistas, divulgamos: Breivik escreve, em nome de um colectivo, que "a luta democrática contra a islamização da Europa tinha acabado", que é preciso "executar traidores das categorias A e B marxistas/multiculturalistas" e que no julgamento procurará "apresentar todas as provas favoráveis à nossa causa para gerar um máximo de simpatizantes e apoiantes para o movimento de resistência europeu ou nacional".

A preocupação, competente e profissional, de toda a imprensa europeia em, no dia seguinte ao horror, tentar explicar detalhadamente o quadro mental, social, cultural e ideológico deste terrorista comprova, ironicamente, o quanto a comunicação social fracassou anteriormente: onde estão, para contraponto, as reportagens, os artigos, as análises e os comentários que nos mostrassem, antes desta tragédia, estar uma nova extrema-direita, refinada, atrevida, preparada para atacar de forma tão decidida? Onde estão os alertas que o suposto olhar atento dos jornalistas deveria ter emitido?

E, no entanto, basta percorrer qualquer site público de organizações extremistas de direita, conhecidas das autoridades, para descobrir que esta gente discute aberta e recorrentemente a questão da luta armada, a prática do terrorismo, as formas de obter financiamento e propaganda. A denunciar isso, a imprensa europeia, com poucas excepções, falhou.

Em Portugal, estupidamente, sempre que um irrelevante Mário Machado - que à superfície nada tem que ver com Breivik mas que, em boa verdade, é pano do mesmo tear - diz um disparate ou organiza um desfile com dez amigos a mostrar cruzes suásticas, corremos a apontar-lhe microfones e câmaras oferecendo publicidade, de mão beijada, a troco de notícia alguma. E ele, de todas as vezes, fica um pouco mais forte...

Andamos anos a publicar a nossa manifesta ignorância sobre o fundamentalismo islâmico. Deparamo-nos, agora, com o facto de sermos ainda mais ignorantes quanto ao fundamentalismo cristão que cresceu, sem o vermos, na nossa comunidade. Não sabemos, portanto, o que andamos a escrever. Temos, nos jornais, de pensar e discutir seriamente este assunto.

Artigo de Pedro Tadeu no Diário de Notícias .

Nunca aprendeu o que é ser luterano




António Canoa, Pastor da Igreja Luterana de Portugal

Sempre existiram homens que se levantaram querendo ser doutrinadores, juízes e executores da humanidade, em nome de Deus ou de determinada Igreja. É obvio que estes homens não agem em nome de Deus, nem da religião ou da Igreja. Essas pessoas agem por conta própria ou, no máximo, são representantes de pequenos grupos isolados. Normalmente, radicalismos não representam o todo.

As últimas informações apontam para o autor dos atentados na Noruega como sendo um cristão luterano. É possível que ele tenha frequentado alguma igreja luterana ou tenha lá o seu nome registado, visto a Noruega ser um país luterano. Mas ou ele nunca aprendeu o que é ser um cristão luterano ou os seus conflitos internos são tão grandes que perdeu a noção do que é ser cristão luterano.

Um verdadeiro cristão luterano segue o ensinamento de Jesus, que dizia: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” O seu radicalismo dizia: “Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos seus amigos.” Por isso, é impossível alguém dizer-se seguidor de Jesus e de sã consciência sair por aí a fazer massacres. É um contra-senso.

Muitas vezes as pessoas arvoram-se em advogados de Deus, mas Deus não instituiu advogados sobre a Terra, para o defenderem ou aos seus interesses. Deus instituiu testemunhas. Mas testemunhas não lutam, não brigam, não defendem, apenas contam o que sabem.

Religião quer dizer religar. A religião serve para religar o homem pecador a Deus. Por isso, religião jamais poderá produzir a morte. Religião por força da sua expressão tem que produzir vida. O autor dos atentados não representava Deus, não representava a religião, não representava a Igreja Luterana, ele representava-se a si próprio e aos seus conflitos internos…

Texto publicado no Diário de Notícias via Ovelha perdida  

O FUNDAMENTALISMO CRISTÃO







O denominado fundamentalismo cristão nasceu através de uma iniciativa que se pretendia de reacção à teologia liberal que grassou na Europa desde o século XIX.

Alguns líderes baptistas americanos, que não se reviam na abordagem liberal, reuniram-se para estabelecer algumas bases de fé a que chamaram “The Fundamentals”. Daí passarem a ser denominados “fundamentalistas”, aludindo ao “firme fundamento” referido por S. Paulo em carta a Timóteo (2 Tm 2:19).


Este movimento caracterizou-se por uma leitura escatológica dispensacionalista, com ênfase no final dos tempos e na segunda vinda de Cristo, e recusavam-se a utilizar outra tradução da Bíblia (em inglês) que não fosse a velha King James. Criaram escolas bíblicas como a de Dwight L. Moody, em Chicago (1886) para defender a ortodoxia da fé contra Harvard, Yale e Princeton, influenciadas pelos racionalistas alemães.

O que hoje se conhece como fundamentalismo cristão surgiu no pós-guerra para se opor à teologia liberal, ao darwinismo, e à alta crítica alemã, podendo resumir-se desta forma simples: inerrância da Bíblia; crença no nascimento virginal, divindade, expiação vicária, ressurreição corpórea e segunda vinda de Cristo; premilenarismo; historicidade dos milagres; separação, relativamente a apóstatas e ecuménicos.

Neste sentido é um erro fazer equivaler fundamentalismo a extremismo terrorista, uma vez que os fundamentalistas cristãos apenas procuram preservar a sua fé em bases que eles consideram serem sãs e sólidas. Nada têm que ver com terrorismo, antes pelo contrário, já que nunca tiveram a pretensão de mudar a sociedade pela força das armas e porque desenvolvem muitas vezes uma postura escapista e socialmente pouco interventiva, com os olhos postos no segundo advento de Cristo.

Por isso, o jovem terrorista norueguês Anders Behring Breivik, autor do recente massacre de Oslo, não é um “fundamentalista cristão” ao contrário do que pintam os média, até porque seria eventualmente luterano e os luteranos não têm qualquer tradição fundamentalista. É apenas um pobre coitado, confuso, que nem sabe o que é ser cristão, e que se calhar nunca ouviu falar em fundamentalismo cristão.

Ao ler a comunicação social verifica-se que dá muito jeito aos jornalistas e comentadores chamar a este indivíduo “fundamentalista cristão”, de modo a fazer equivaler este fenómeno ao do fundamentalismo islâmico, para poderem estabelecer uma perspectiva de compreensão lógica, ligando extremismo religioso e terrorismo político. Não conheço suficientemente o Islão, mas há aqui uma diferença e um problema, é que há uma corrente cristã assim designada, “fundamentalista”, e que está nos antípodas da violência.

Mas se há alguma coisa que este triste acontecimento comprova é que a tendência para o mal está inscrita no comportamento humano, independentemente da etnia, cultura, geografia, cor da pele, nível de vida, educação ou religião.

Pessoalmente aprecio cada vez menos os ismos. Embora partilhe crenças comuns com os fundamentalistas, mantenho uma visão diferenciada noutros aspectos. E tenho algumas reservas. Antes de mais porque o movimento fundamentalista é reactivo e não proactivo. E depois porque tenho dificuldade com purismos de qualquer espécie.
No fundo, todos se sentem os mais próximos da verdade. Na política como na religião, todos acham que são os mais puros, os mais genuínos.

Presunção e água benta…




Texto extraído do Blog Ovelha Perdida

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Percepções Textuais




"Transcrevo aqui, alguns comentários feitos por mim em várias postagens e reportagens de jornais e blogs na rede.




"Quando esteve no Brasil, Winehouse só deu vexame. Em seu show mal conseguia parar em pé para galhofa da platéia embasbacada com suas evoluções etílicas. Como bem foi definido no texto, Amy foi “vida sem rumo”; agora, assistimos o seu antecipado ocaso. Quanto talento desperdiçado numa vida fútil e sem Deus!" 

Comentário da postagem "O último mito da cultura pop" no blog Ovelha perdida


"Os fundamentos das sociedades ocidentais pouco a pouco estão sendo minados por uma mentalidade relativista e amoral. Os valores regentes da conduta e da moral dão lugar uma permissividade sórdida e destituída de rédeas. O que vale hoje é olhar para o próprio nariz, e que se dane o próximo! A especulação e a espoliação se mostram os senhores inclementes de uma época dominada pela frieza calculista dos números. Nesta época de incertezas e sombras, a dúvida instala no coração certos dispositivos de defesa ou auto-preservação, daí a desconfiança ser generalizada."

Comentário do artigo "Um tempo de suspeita" no Diário de Noticias de Portugal.


"Ser cristão e ao mesmo tempo ser político nestes nossos dias é um desafio que demanda muita força moral do indivíduo. Seguir os princípios esposados pelo Evangelho sem se macular com os expedientes escusos e, por vezes, escorregadios das veredas politicas é tarefa para poucos mortais."

Comentário  no "Palavras Perdidas" do blog Ovelha Perdida


"Em Cristo percebe-se a dignificação da mulher como pessoa humana. Ele jamais “coisificou” o vaso mais fraco; pelo contrário, mostrou em suas interrelações o verdadeiro modelo de tratamento que toda mulher enquanto ente humano inserido na sociedade merece, isto é, amor, compreensão, atenção, respeito e cortesia. Cristo é o exemplo de homem perfeito e modelo para todos nós, homens, inseridos numa sociedade hipócrita que insiste em palmilhar na contramão de seus ensinos."

Comentário  no "Palavras Perdidas" do Blog Ovelha perdida.







UM TEMPO DE SUSPEITA

A base da sociedade actual é a desconfiança. Os cidadãos não acreditam uns nos outros. Todos dizem haver uma crise de valores e coleccionam-se histórias de fraudes, abusos e ameaças. Vivemos um tempo de suspeita.

Atribuímos isso à sociedade aberta, heterogénea, para mais em crise, mas a explicação não colhe. Primeiro, porque crises sempre houve. Além disso, as tradições permanecem, a religião é tão influente como sempre foi e as pessoas não são mais ou menos egoístas que antes. O problema não está nos valores, mas nos critérios.

A dúvida colectiva nasce não de pessoas concretas, mas da atitude de fundo. Cada um acha-se honesto, e aqueles que conhece são pessoas de bem. Apesar disso, garante que ninguém respeita os valores. Suspeitamos não dos próximos, mas dos outros em geral.

 A origem da atitude está no preconceito, que tem a vantagem de nos evitar de pensar. Durante séculos, sempre se soube que em todos os grupos e condições havia pessoas boas e más. Era preciso julgar com cuidado. Mas nós fomos educados na convicção pseudocientífica da "luta de classes", forma operacional de xenofobia. Este tempo da técnica acredita que mecanismos e estruturas se sobrepõem a pessoas e comportamentos, fazendo tudo mau.

Repudiamos não a mentira de alguns políticos, mas a classe política mentirosa. O problema está menos nos banqueiros desonestos do que no sistema bancário que elimina a honestidade. Não criticamos os erros das agências de rating, mas a sua existência, mesmo sem saber bem o que fazem; os juízos são automáticos.

Esta atitude justifica os preconceitos mais boçais. Todos sabem que os maridos enganam as mulheres, os comerciantes empolam os preços, os professores tomam alunos de ponta. Antes de sabermos os pormenores de qualquer história dessas, já pronunciámos o veredicto. Só notamos a terrível injustiça quando somos vítimas do raciocínio.

Aliás, já vamos na segunda geração de preconceitos. Acreditamos no mito de que os antigos achavam as mulheres inferiores. Nós, sendo igualitários, discriminamos não as mulheres, mas os homens acusados automaticamente de discriminação que não cometeram. E ninguém se dá ao trabalho de considerar a realidade, onde há mulheres inferiores e homens machistas, mas poucos.

No meio da suspeita e do preconceito, o elemento que desaparece é a honra. Ninguém confia na honestidade alheia e espera-se sempre o pior. Todos se consideram pessoalmente honrados numa sociedade de bandidos. Para a dominar, a solução técnica tinha de ser um mecanismo: a regulação.

Na falta da honorabilidade, brama-se pela lei. Trocamos o juízo moral pela ponderação da legalidade. Normas e estatutos, fracos substitutos da suspeita virtude alheia, penetram nos campos mais íntimos e insólitos. A consequência é a inflação desenfreada de leis e regulamentos, que estrangula a vida social e atinge paroxismos de ridículo.

A lei não pode funcionar sem honra porque, em si, é romba e míope. Só vê branco e preto. Não pode fechar os olhos, dar o desconto, ter benevolência. Ou se comete o crime ou não se comete, tendo como única gradação a severidade da pena. Até castiga quando quer ajudar, ao multar a falta de cinto de segurança.

Assim o totalitarismo do mundo quadriculado do direito aumenta ainda mais a suspeita social. Surge então um dos debates mais estúpidos da história, entre neoliberais e intervencionistas, que se acusam mutuamente de todos os males sociais, num suposto confronto entre Estado e mercado, como se qualquer deles sobrevivesse sem o outro.

Uma sociedade civilizada é o equilíbrio entre honra, lei e liberdade. Na falta de uma, as outras não funcionam. O tempo da suspeita esqueceu a primeira e tenta viver com as outras duas em confronto, onde o propósito da lei não é defender a liberdade, mas restringi-la; a finalidade da liberdade não é respeitar a lei, mas desafiá-la. Esta é a verdadeira crise actual, manifestada nos múltiplos problemas da Justiça, Educação, Saúde, etc.. O nosso real problema não é político, financeiro ou económico. É a desconfiança.


Artigo  escrito por  João César das Neves no Diário de Notícias de Portugal