sábado, 31 de outubro de 2015

UM DITADOR RESGATADO NAS RUAS

Culto a Stalin em territórios separatistas da Ucrânia ignora opressão do antigo governo

Por Renato Grandelle



ALEXEY FILIPPOV/AFP


O movimento separatista pró-Rússia em partes da Ucrânia ressuscitou uma das figuras mais controversas do século XX. O ditador soviético Josef Stalin é exaltado por autoridades de duas cidades rebeldes, que se autoproclamaram repúblicas e são opositoras do governo de Kiev. O rosto do ex-líder do Kremlin estampa cartazes no Centro de Donetsk (chamada Stalino até os anos 1960). Em Lugansk, também alinhada a Moscou, o órgão de segurança local foi batizado de MGB, a mesma sigla da polícia secreta stalinista. O tirano tornou-se símbolo de um passado glorioso a ser recuperado — a despeito dos conhecidos expurgos e execuções que inviabilizaram qualquer oposição a seu regime.

A trajetória stalinista também é revista em um livro lançado no mês passado pela historiadora Sheila Fitzpatrick, especialista em Rússia moderna. Em “On Stalin’s team” (em tradução livre, “No time de Stalin”), a pesquisadora sustenta que, em seus 31 anos no poder, o líder soviético não se manteve isolado no comando, uma teoria vista até hoje como senso comum. Seu gabinete seria composto por um punhado de homens de confiança, responsáveis por levar as ordens e os desmandos para o mundo comunista.

Segundo a historiadora, a divisão eficaz das tarefas entre as principais famílias do regime evitou arranhões do governo soviético mesmo em seus momentos mais críticos, como a invasão dos alemães no seu território durante a Segunda Guerra Mundial. A cúpula stalinista capitaneou o funcionamento das estruturas burocráticas e inspirou aparelhos de censura e violência. Outra realização significativa foi a instituição do culto à personalidade do ditador. Esta imagem de líder inabalável é hoje revigorada pelos rebeldes pró-Rússia, saudosistas do comunismo e da condição de potência mundial da União Soviética.

Professor do Departamento de História da USP, Angelo Segrillo ressalta que os novos adeptos de Stalin optam por vê-lo apenas por suas vitoriosas políticas econômicas, ignorando o estilo tirânico com que conduziu seu governo.

— Trata-se de um personagem fundamental para o desenvolvimento soviético, o protagonista de uma transformação revolucionária. Um grupo foi retirado à força do poder para ele assumir a liderança — descreve Segrillo, autor do livro “Os russos” (editora Contexto). — Por isso, há tantas interpretações sobre sua figura. Há quem prefira vê-lo como um assassino, enquanto outros o aplaudem pelas políticas que levaram o país da economia rural à fabricação de foguetes.


MOMENTO DE GLÓRIA

Para Virgílio Caixeta Arraes, professor do Departamento de História da UnB, a nova exaltação de Stalin é fruto de uma “memória seletiva”.

— A História tem uso seletivo. As pessoas só lembram do que satisfaz naquele determinado momento — avalia. — Os saudosistas do stalinismo acreditam que o comunismo foi o momento de afirmação política da Rússia no século XX. O país, quando era uma monarquia, perdeu a Primeira Guerra Mundial. Já como comunista, venceu a Segunda. Foi um momento de glória, em que provocou também o temor do Ocidente. E isso foi importante, porque sua população sempre sentiu que não era tratada com o devido respeito pelas potências europeias.

A Ucrânia, agora marcada pela divisão entre favoráveis e contrários ao governo russo, já foi praticamente unânime em sua ojeriza a Stalin. No início dos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha era considerada uma libertadora do país, descontente com as políticas soviéticas impostas pelo Kremlin.

O apogeu econômico da União Soviética foi alcançado após a morte de Stalin, mas ele manteve-se como a personificação da força comunista. Embora fosse ateu, o ditador recheava seu discurso com símbolos e imagens bíblicas. Anunciava à população a “terra prometida do socialismo”. Filho de servos, nascido em um casebre de um cômodo, tinha discurso acessível aos pobres, ao contrário do linguajar culto de seu maior rival no Partido Comunista, Leon Trotsky.

— O aparato propagandístico era típico dos regimes totalitários — conta Arraes. — Lenin, seu antecessor e primeiro líder comunista soviético, não gostava da exaltação das figuras políticas. Já Stalin considerava-se um czar, o pai da população, e se beneficiava de tecnologias como o rádio e o cinema para reforçar seu peso na sociedade.

Maurício Parada, professor do Departamento de História da PUC-Rio, destaca que Stalin representa a sobrevivência a uma grande guerra — no caso, o confronto contra Hitler — e a capacidade de extensão do território nacional.

— O que vale é a mão pesada, a ordem e a autoridade do Estado — enumera Parada, que também interpreta por que a minoria russa na Ucrânia ignora os expurgos promovidos por Stalin. — O esquecimento é tão importante quanto a memória. Vinte milhões de pessoas morreram durante o regime stalinista, houve expurgos, até generais foram levados do front para os campos de trabalho forçados. Mas isso não conta no processo de revisionismo. O importante é lembrá-lo como uma figura patriótica.

Este trabalho, segundo Parada, tem sido bem sucedido. Ainda que munidos com livros sobre a repressão stalinista, as gerações mais novas dos rebeldes ucranianos cerram fileiras ao lado do líder da União Soviética.

— Os jovens acreditam que ele é um grande herói, sequer consideram o que destruiu — lamenta. — Isso pode repercutir em biografias, livros didáticos, homenagens públicas e inaugurações de monumentos públicos.

De acordo com Segrillo, a postura dos jovens deve-se à desilusão com o progresso prometido nos últimos 20 anos, desde a queda do comunismo, mas não alcançado.

— Houve uma grande decepção nos anos 1990, porque a passagem do socialismo para o capitalismo não trouxe uma vida melhor — destaca ele. — Por isso, existe um apelo à grandeza de Stalin. Os líderes comunistas que vieram depois dele fizeram o regime perder vigor e se burocratizar. O atual conflito exacerbou o debate e abriu espaço para as questões radicais. No entanto, acredito que a imagem stalinista, mesmo forte neste momento, continuará minoritária. Pode ser um eterno contraponto ao regime que estiver em vigor, mas nunca terá a força de antes.


VIDA PESSOAL DO TIRANO

Até a personalidade do ditador tem sido revisitada. A romancista irlandesa Edna O’Brien, que lançou este mês o livro “The little red chairs” (ou “As pequenas cadeiras vermelhas”, em português), cogitou, em entrevista ao jornal britânico “Independent”, como era a vida pessoal do tirano soviético:

— Se quisesse, Stalin poderia ter um efeito magnético sobre as pessoas, chamar uma mulher para dançar, fazê-la se sentir feliz e, na mesma noite, ordenar algumas execuções. Mas eu gostaria de saber: ele sentia alguma coisa? Quando fazia sexo, pensava em assassinatos?



Fonte: O Globo edição de 31/10/2015 

MORTO DE PREGUIÇA


Sedentarismo mata 300 mil por ano no Brasil. Jogar pelada uma vez por semana é nocivo

Por  Ana Lucia Azevedo




Rio antigo. A foto de Marc Ferrez mostra pessoas na Avenida Central, atual Rio Branco. Datada de 1906, nela é visível como a maioria das pessoas está em boa forma. DIVULGAÇÃO/IMS


Rio antigo. A foto de Marc Ferrez mostra pessoas na Avenida Central, atual Rio Branco. Datada de 1906, nela é visível como a maioria das pessoas está em boa forma

Hoje começa o fim de semana, e muitos brasileiros planejam as mais do que tradicionais peladas, com três, quatro horas de futebol. A princípio, diversão e sinal de que, afinal, não são sedentários. Mas a batida expressão “só-que-não” nunca teve uso tão apropriado. Não só são sedentários quanto temerários. O exercício visto pela lente da ciência revela que a pelada pode até ser divertida, mas não traz benefício para a saúde. Na verdade, é arriscada. O mesmo vale para desportistas de fim de semana em geral. São os motoristas de domingo da saúde. Retrato de um país sedentário, em que só 30% da população é fisicamente ativa e apenas entre meros 2 %a 5 % fazem exercícios em volume ideal. No Brasil, 300 mil pessoas morrem por ano de doenças associadas diretamente ao sedentarismo, uma a cada dois minutos, diz o médico Victor Matsudo, consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) para atividade física e coordenador da Rede de Atividade Física da América Latina.

No mundo, afirma ele, são 5,3 milhões de mortes por ano. O vírus ebola, observa ele, matou cerca de 16 mil pessoas em 18 meses.

— De ontem para hoje, 154 mil pessoas no mundo morreram dessas doenças, principalmente as do coração. O sedentarismo é o fator de risco isolado, mas prevalente. A comunidade médica e científica demorou muito para acordar para o problema — diz Matsudo.

CORPO DA IDADE DA PEDRA EM ROUPA MODERNA

Especialistas compartilham a preocupação:

— O sedentarismo é hoje o maior problema de saúde pública do país, o maior fator de risco isolado. É epidêmico e não recebe a devida atenção. Está na origem de uma série de doenças evitáveis — garante o professor de cardiologia da UFRJ Claudio Gil Araújo, um dos maiores especialistas do país em medicina do esporte e do exercício, com décadas de experiência que incluem o atendimento de atletas olímpicos a senhores de 97 anos.

O sedentarismo avança com a vida moderna, na qual se faz quase tudo sentado, no transporte, no lazer e no trabalho. Um exemplo está na exposição “Rio: primeiras poses — Visões da cidade a partir da chegada da fotografia (18401930)”, no Instituto Moreira Salles. A observação de fotos antigas de transeuntes do Centro do Rio há mais de um século revela como a maioria das pessoas era mais magra, destacam os médicos. Não que fizessem ginástica, mas suas vidas eram ativas, andava-se mais. Atividade física não é o mesmo que esporte, lembra Matsudo.

A dose semanal mínima de exercício, segundo Araújo, é de 75 minutos de atividade intensa ou 150 minutos de moderada. Ele lembra que o estado do sedentarismo pode ser ainda mais grave do que o oficial, pois os dados vêm da pesquisa nacional Vigitel, importante, mas baseada em autodeclaração e feita apenas nas capitais. Ou seja, nem todo mundo que se declara ativo de fato é. E aí voltamos aos atletas de fim de semana, aquelas pessoas que fazem exercício uma vez a cada sete dias e se consideram ativas.

O fisiologista Igor Lucas Gomes-Santos, da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP, explica por que o exercício esporádico é perigoso:

— Jogar futebol durante três horas, uma vez por semana, é pior do que não fazer nada. Isso gera estresse oxidativo nas células, um processo que deflagra inflamação e desequilíbrio no organismo. Se você faz atividade até por menos tempo de uma vez, mas com regularidade, seu corpo é vacinado pelo exercício. Ele gera doses pequenas de estresse e essas levam a adaptações benéficas, ativam mecanismos protetores — salienta o pesquisador. — O exercício é homeostático. Ele normaliza tudo o que está alterado. Se a pressão está alta, ele baixa, por exemplo. E isso acontece porque nosso corpo evoluiu para o movimento. E essa adaptação ao movimento faz com que precisemos de estímulos. Pequeninos estresses diários. O exercício faz esse papel — diz.

E quando essas doses de estresse que mantém o corpo azeitado entram em descompasso, começam os problemas, observa.

O Homo sapiens surgiu há cerca de 200 mil anos e evoluiu para ser ativo, para correr pelo menos uns dez quilômetros por dia para comer e não ser comido. E assim foi a vida até há cerca de 11 mil anos, quando surgiu a agricultura. Ainda esta exigia grande gasto energético.

REPOUSO ABSOLUTO GERA EFEITOS COLATERAIS

As coisas não mudaram muito em termos de consumo de energia com a Revolução Industrial, já que as pessoas trabalhavam com grande esforço físico e andavam muito. Só há pouco mais de um século o trabalho se tornou mais sedentário; o transporte, idem; e a comida, abundante. A vida se tornou confortável. Só esqueceram de combinar com a evolução. O corpo continua o da Idade da Pedra, apenas vestido para o século XXI, em tamanhos cada vez maiores. A vida moderna proporcionou maior expectativa de vida (cerca de 30 anos maior que há um século), maior estatura (em média, sete centímetros a mais nos homens) e a eliminação de doenças infecciosas em grande parte. Porém, trouxe números epidêmicos de doenças menos frequentes há cem anos, como diabetes do tipo 2, certos tipos de câncer, mal de Alzheimer e males cardíacos.

— Vivemos com tecnologia moderna e corpo pré-histórico. E a regra do jogo é: tudo o que você não usa perde. Quando surge uma doença, não está preparado — salienta Gomes-Santos.

Quando nos exercitamos, o RNA em nossas células responde. É convertido em proteínas. A meia-vida desse RNA alterado pelo exercício é de segundos a dias. Em geral, o efeito dura cerca de 36 horas, diz Gomes-Santos.

— Hipertensos que se exercitam reduzem a pressão em 24 horas. Diabéticos sentem melhora nos níveis de insulina em duas semanas. Mas o efeito é temporário — destaca.

Precisamos sempre renovar a dose de atividade. Se paramos, o efeito é negativo, diz:

— Ficamos sem proteção e apenas com a parte ruim, que é o estresse oxidativo. Por isso, a regularidade e a progressão são importantes, e os exercícios intensos e esporádicos, péssimos.

O educador físico Marcelo Cabral, que trabalha com reabilitação, alerta para outro aspecto do problema:

— A atividade faz tanta diferença que, muitas vezes, uma pessoa com doença cardiovascular, mas bem condicionada fisicamente, apresenta um risco menor de males do coração do que um sedentário aparentemente saudável.

Araújo acrescenta que o repouso absoluto é um vilão a ser evitado. Pessoas doentes confinadas numa cama sofrem danos colaterais sérios.

— A cada dia deitado se perde 1% da capacidade física. Um mês de internação produz efeitos avassaladores sobre o corpo, que não foi feito para isso. Nosso manual de fábrica tem instruções para atividade e nenhuma para repouso exagerado. É por isso que o exercício é o melhor remédio. Atacar as causas. Os medicamentos atuam sobre as consequências — frisa Araújo.

O cardiologista Claudio Domenico é pioneiro na prescrição do exercício a seus pacientes.

— O indivíduo condicionado vive melhor e tem risco reduzido para muitas doenças — observa, ele próprio atleta, que rema de quatro a cinco vezes por semana — O médico precisa dar exemplo — diz.

Tanto ele quanto Araújo destacam que o estímulo à atividade física é o maior legado que as Olimpíadas podem deixar para o país.



Fonte:  O GLOBO. Edição de 31/10/2015 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

AS VIÚVAS DE BORNO

  
Por BERNARDO TABAK                

Exército resgata 338 reféns do Boko Haram; mulheres que perderam maridos são mais vulneráveis  


  

As Forças Armadas da Nigéria anunciaram ontem que 338 pessoas, sequestradas pelo grupo fundamentalista islâmico Boko Haram, foram resgatadas de acampamentos nas aldeias de Bulajilin e Manawashe, próximas à Floresta de Sambisa, bastião dos extremistas no estado de Borno, Noroeste do país. Ao mesmo tempo, pelo menos 14 civis foram mortos num ataque dos radicais na cidade de Ala, na região de Diffa, no Sudeste do Níger, fronteira com a Nigéria. Foram mais dois episódios do conflito, que ocorre desde 2009, em que a violência já deixou pelo menos 17 mil mortos e levou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de casa. Entre estes deslocados pela violência, estão milhares de viúvas, sobreviventes dos ataques extremistas e que, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Nigéria (CICV), estão entre os grupos sociais mais desamparados afetados pelo conflito, devido à precária condição socioeconômica.

O delegado do CICV no país, Jesús Serrano Redondo, chegou há nove meses à Nigéria. Segundo ele, as mortes dos maridos de mais de sete mil mulheres inscritas nas associações de viúvas cristãs e muçulmanas estão relacionadas ao conflito entre o Boko Haram e o Exército nigeriano. Em Borno, o islamismo é a principal religião e, culturalmente, os homens são responsáveis pelo sustento e proteção das esposas. Segundo Serrano, a perda do marido é o fim do esteio econômico.

— As viúvas são um dos vetores sociais mais vulneráveis. Quando seus companheiros são mortos, elas perdem também os meios para pagar alimentação, moradia, saúde e educação — explica Serrano ao GLOBO, da Nigéria.

De acordo com o CICV, dos cerca de dois milhões de deslocados internos, 1,5 milhão rumaram para Maiduguri, capital de Borno.

— Tornou-se uma cena cotidiana ver mulheres em situação de mendicância pelas ruas. Outras tentam sobreviver vendendo pastéis de feijão frito (kosai) ou chapéus típicos, que elas próprias costuram, e rendem cerca de 500 nairas cada um (R$9) — conta Serrano. 


NÚMERO DE VIÚVAS TENDE A AUMENTAR


O marido de Memuna Ihaka morreu há dois anos, quando tentava fugir de um conflito entre o Boko Haram e os militares.

— Meus quatro filhos e eu não pudemos sequer ver o corpo. Acabei sabendo da morte dele pelos relatos de testemunhas — recorda, com a voz embargada, Memuna, viúva aos 25 anos.

Além da assistência humanitária básica, onde, somente neste ano, a Cruz Vermelha já forneceu água, alimentos e itens de primeira necessidade a cerca de 300 mil pessoas, desde 2013 o CICV colabora com a Associação das Viúvas Muçulmanas no Estado de Borno. O objetivo é amenizar a crise humanitária instalada nesta região da Nigéria.

— A maioria das famílias das viúvas costumava ter três refeições por dia, quando os maridos estavam vivos. Nós sabemos que elas estão lutando agora para terem uma refeição diária para toda a família — ressalta a secretária da associação das viúvas, Aishatu Maaji. — Também é difícil para elas encontrarem um emprego, porque a maioria tem muito pouca educação formal.

Além de tentar suprir as necessidades básicas, o CICV ajuda viúvas que buscam trabalho a iniciarem um negócio, através de uma iniciativa de microcrédito, na qual recebem orientação e 40 mil nairas (R$ 770) para comprar materiais e iniciar os projetos. Mas, enquanto o esforço das entidades busca devolver sua dignidade, segundo a Cruz Vermelha, o número de viúvas tende a aumentar enquanto o conflito prosseguir.

Ontem, o porta-voz militar nigeriano, Sani Usman, informou que “as pessoas resgatadas foram oito homens, 138 mulheres e 192 crianças”, acrescentando que 30 extremistas foram mortos na ação, além de terem sido apreendidas armas e munições. Ele também informou que uma emboscada militar matou quatro suspeitos que planejavam ataques suicidas na cidade de Gubula, estado de Adamawa.

Enquanto isso, o Parlamento do vizinho Níger aprovou uma lei prolongando o estado de emergência de 15 dias, que havia sido decretado em Diffa, por mais três meses, numa tentativa de aumentar a segurança na região.

— Ao todo, 14 pessoas foram assassinadas a tiros, além de outras três ficarem feridas, durante um ataque do Boko Haram — afirmou o presidente do Conselho Regional de Diffa, Malam Ligari.

O Boko Haram também tem organizado ataques em Camarões e no Chade. De acordo com a Anistia Internacional, apenas neste ano, o grupo sequestrou pelo menos duas mil mulheres e meninas na Nigéria. Em abril de 2014, o sequestro de mais de 270 estudantes na cidade de Chibok provocou forte comoção mundial, que resultou na campanha #BringBackOurGirls (#TragamDeVoltaNossasGarotas). O atual presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, assumiu em maio com a promessa de destruir o Boko Haram, e deu a seus generais até o fim de dezembro para derrotar os extremistas. Entretanto, desde a posse de Buhari, mais de 1,4 mil pessoas foram mortas pelo grupo — 170 apenas neste mês de outubro.


Fonte: O GLOBO de 29/10/2015

CONHECIDOS PELO AMOR

Por Geovani Figueiredo dos Santos

 

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Se usarmos o comportamento odioso de Caim e a sua conduta abominável para com o seu irmão Abel como uma analogia metafórica da atitude de certos cristãos hodiernos no que diz respeito ao seu próximo, chegaremos a inconteste constatação de que a natureza humana continua tão imoral e pervertida, como sempre foi. Se o homem não estiver sob a Graça e, por conseguinte, completamente rendido ao senhorio de Cristo e ao seu Santo Espírito, pode ser capaz de práticas semelhantes ou, quiçá, piores do que as obras de Caim, cujo coração era mau. Westcott deixa bem claro que “a vida permite que se conheça os filhos de Deus ”, e, portanto, não se pode de modo algum ignorar que os servos de Cristo são conhecidos pelas obras que praticam e pelos frutos que produzem.

Um homem é conhecido pelo seu testemunho e, também, por uma outra característica fundamental que é o amor. O próprio apóstolo em questão declarou que ser justo é amar aos irmãos. William Barclay assevera em seu Comentario do Novo Testamento que amar “trata-se de um dever e um mandamento que jamais deveríamos pôr em dúvida. João aduzira diversas formas e razões pelas quais esse mandamento precípuo e um ponto capital no caráter cristão que não deve ser tratado com displicência por quem quer que deseje professar o nome de Cristo ou seguir as suas pisadas.  Barclay pontua estas questões, vejamos:  

(1)   É um dever que foi inculcado aos cristãos desde o momento em que ingressaram na Igreja. A ética cristã pode resumir-se com uma só palavra: amor. Desde o momento que um homem se entrega a Cristo, e formaliza sua incorporação à Igreja, empenha sua palavra de fazer do amor o móvel principal de sua vida. 

(2)   Precisamente por isso mesmo, o fato de que a pessoa ame o seu próximo constitui a evidência definitiva de que passou da morte para a vida. 

(3)   Amar significa transformar-se em homicida. Não há dúvida de que João aqui está pensando nas palavras de Jesus no Sermão da Montanha (Mateus 5:21-22). Jesus diz que a lei antiga proíbe o homicídio, mas a nova lei estabelece que a ira, o rancor e o desprezo são pecados igualmente graves. O ódio no coração deve preceder o ato externo do homicídio. Um homem que odeia é sempre um assassino em potencial. Consentir que o ódio se assente no coração implica quebrantar um claro e positivo mandamento do próprio Jesus. Portanto, o homem que ama é seguidor de Cristo, e aquele que odeia se aparta dEle. 

(4)   Mas há ainda algo mais que devemos assinalar. Qualquer pessoa pode dizer: "Admito esta obrigação de amar, e procurarei cumpri-la; mas não sei o que implica. Qual é o amor que devo mostrar e em que devo viver?" A resposta de João (1 João 3:16) é a seguinte: "Se quer saber o que é o amor, olhe a Jesus Cristo. Em sua morte na cruz por todos os homens se manifestou tudo seu amor". João quer nos dizer que uma vez que a gente viu a Cristo, sabe o que é o amor. ou em outras palavras, a vida do cristão é a imitação de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filip. 2:5). Ele nos deixou um exemplo, “para seguirdes os seus passos” (1 Pedro 2:21). Nenhum homem pode ver Cristo e depois dizer que não sabe o que é a vida cristã. 

O amor segundo é apresentado nas Escrituras explicita uma vida de virtudes e transparência para com o nosso semelhante. Na igreja somos chamados a dar a vida pelos nossos irmãos, o contrário, é a mais terrível contrafação da caridade divina e do ideal castiço de Cristo aos seus seguidores.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A OBRA DE DILMA

POR MÍRIAM LEITÃO COM MARCELO LOUREIRO

 
 
Como o país conseguiu chegar a um déficit primário de R$ 60 bilhões? Foi um processo de pioras sequenciais, persistência no erro e manipulação de indicadores fiscais. O resultado da desastrosa administração das finanças públicas no governo Dilma Rousseff chegou agora, em 2015. Mas quem olha a série histórica desta administração percebe que o poço foi cavado ano após ano.Este ano não é um ponto fora da curva, e sim um resultado que a presidente Dilma buscou persistentemente.
 
No começo, a desculpa era a da necessidade de políticas anticíclicas para recuperar o país após a crise financeira internacional de 2008. Essas políticas foram necessárias num primeiro momento, em 2009, ainda no governo Lula, mas depois do forte crescimento de 2010 teria sido mais sensato reverter as políticas e preparar o ajuste. O governo preferiu continuar erodindo o superávit primário. 

A redução do número não diz tudo porque começou a haver descontos na meta fiscal a ser atingida. O resultado não era o que estava escrito. O governo, a cada ano, aumentava o percentual de despesas que não deveriam ser computadas como despesas, de investimentos à perda de arrecadação com as desonerações.

As reduções de tributação para empresas que empregam muito tinham uma boa justificativa e foram mais horizontais. Mas a maioria dos benefícios fiscais foi concedida a setores escolhidos, a começar pela indústria automobilística.

O governo aumentou os gastos, engessou mais o orçamento e superindexou o salário mínimo, o que fez crescer ainda mais as despesas previdenciárias. Mesmo diante do aumento do rombo nas contas do INSS e da previdência pública, não tomou providência alguma. Nunca combateu o que tinha cara de fraude, como o aumento exponencial dos gastos com seguro-desemprego mesmo numa época de queda do desemprego. Aproveitou o crescimento da arrecadação para gastar mais. Várias despesas subiram de forma insustentável. Agora o governo enfrenta a queda da receita e tem que cortar até no essencial.

Um ponto importante para se entender o momento vivido agora com esse rombo gigantesco é que o governo rejeitou todas as críticas. Todos os especialistas ou jornalistas especializados na área econômica que mostraram os riscos, as maquiagens contábeis, o aumento do problema fiscal foram tratados com desprezo e estigmatizados. O Banco Central não alertava suficientemente para a deterioração fiscal e em vários comunicados dizia que esta área estava sob controle. Para não enfrentar uma briga interna, o BC se omitiu muitas vezes no alerta que deveria ter feito às autoridades que administravam as contas públicas.

O ministro Guido Mantega e seu secretário do Tesouro, Arno Augustin, demonstravam desprezo pelo equilíbrio fiscal. Para eles, bastava que os números parecessem bons, não precisavam ser verdadeiros. Os truques repetidos e abusivos levaram a presidente à desconfortável situação de enfrentar uma possível rejeição às suas contas de 2014. As "pedaladas" ainda não foram quitadas em 2015 nem estão computadas no déficit divulgado ontem.

O ministro Joaquim Levy tem sido uma voz isolada dentro do governo sobre a necessidade de ajuste fiscal forte. Ele foi favorável a um contingenciamento maior, mas a presidente preferiu fazê-lo menor e isso produziu o primeiro estresse dentro da equipe econômica. Depois, houve uma sucessão de atritos. O pior deles foi na decisão desastrada de enviar o Orçamento de 2016 com déficit para o Congresso.

Não foi enviada qualquer proposta relevante de mudança estrutural nos gastos públicos, e as poucas iniciativas foram bombardeadas no Congresso. O caso mais eloquente foi a MP 664, que virou um bumerangue. Era para reduzir o gasto com pensão das viúvas muito jovens e acabou virando veículo para um explosivo aumento de gastos previdenciários nos próximos anos, com o fim do fator e a entrada em outro regime de aposentadoria.
 
Por omissão, mas principalmente por ação, o governo chegou ao dia em que teve que confessar um déficit primário deste tamanho. Ele não foi feito num ano. É a resposta que os números dão a uma presidente que fez por merecê-los. Esta é a cara da administração Dilma Roussef.
 
 

 
 
 
 

Fonte: O Globo de 28/10/2015












UMA ODE À CABO FRIO

Por Geovani Santos

 

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De lidas e de sinas diversas
És terra de pendores altivos
Do teu solo o orvalho goteja
Que revigora o teu chão nativo
 
Outrora, foste palco de cenários relicários
De sons altissonantes e fragores intensos
Aos forasteiros te tornaste corolário
De alegrias, venturas e brios imensos
 
Tuas dunas quais colossos
Misturam-se em dança perene, constante...
O teu céu de anil faz brilhar os meus olhos
Que se ofuscam em cores vibrantes
 
Do teu povo vê-se a mistura
Dos traços ancestrais da miscigenação
São os entrelaços da cultura
Mosaicos de celebração
 
Tu és terra de caiçaras corajosos
Desbravadores dos abismos de água
Mostram-se fortes, impávidos
Atentos, firmes em sua saga 
 
 
Não se pode esquecer o poeta
Que em sonhos em estros repousa
Rodeado de um jardim de letras
Descansa em paz Teixeira e Souza
 
Se faz aqui tecer loas
Aos nossos mestres castiços
Seus nomes pelo tempo ecoas
No verso imortal de Vitorino Carriço
 
Oh! Quem me dera recontar-lhe os anos
Nesta vereda de caminhos ínvios
Onde repousam em eterno sono
O labor de negros, brancos e índios
 
Minha cidade é uma aquarela
Uma bela pintura, assaz
Que permaneça pelas eras
Sempre bela num remanso de paz
 
O seu encanto se encima
Desde o Pontal do Peró à Ilha do Japonês
Nos seus morros onde cantam rolinhas
Testemunhas do que se fez
 
Os teus anos não te dissolvem
Na marcha de desenvolvimento humano
Cabo Frio continua jovem
Embalado por seus 400 anos!





 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UMA VIAGEM LITERÁRIA

Geovani F. Santos 
 
 
 
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Entrei nas páginas do livro como quem passeia em um jardim e enxerga seus encantos multissonantes.  Deixei-me absorver pela trama, suas ideias e nuances inesperadas. Cada personagem, cheio de vida, conduzia-me a prelúdios de expectativa ou precipitava-me num tédio insondável. Não podia me conter. A narrativa tinha vida, cor e cheiros insólitos. Neste lastro de sinestesias e percepções várias adentrei em mistérios cáusticos. Senti emoções inéditas, que me faziam revolutear o pensamento qual redemoinho em mil ponderações díspares.
Empreendi uma viagem de caminhos sinuosos através de um oceano visitado – antes e depois – por seres bizarros. Em dado momento, estes entes literários eram heróis. Mas, de súbito, num rompante infinitesimal, metamorfoseavam-se em vilões malévolos e insidiosos. Destes que maquinam conspirações e respiram malignidades inimagináveis. Seriam disfarces, papeis invertidos, encenação?
Pensei em deixar a leitura de lado, enfadado que estava com a morosidade absurda e consentida de algum herói-personagem. Faltava-lhes movimento, desfecho, ou seria vida na maior acepção da palavra? Novamente, num impulso, fui precipitado em catarata para dentro da obra – como para um mar encapelado. Descortinava-se, agora, assombrosas imagens de batalhas, dramas incontidos, paixões virulentas e um misto de drama e aventura amalgamado. Fui abarcado por pulsões emocionais avassaladoras e brutais. Meu coração parecia um tufão insopitável de sensações. Um turbilhão de pensamentos indomados me atropelou.
Pela segunda vez, pensei em abandonar a obra, dada a sua vertente de obviedades que me solapavam a consciência. Onde estou? Perguntei-me. Sobressaltado por páginas movediças, as quais adquiriam vida e fascínio – mas, ao mesmo tempo repulsa. Como posso experimentar em só momento prazer e asco; amor e ódio; apego e desdém? A mente me trai e os pensamentos encetam outras preocupações. Vou adiante.... Transponho o limiar de mais um capítulo, tão nebuloso quanto o primeiro. Todavia prossigo no afã de entender melhor o que se dará no seu derradeiro fim.
Creio que ler um livro é viajar. Por que ao lê-lo, procuramos entender a alma do autor e o sentido multifacetado que imprime a cada um dos seus personagens. Procuramos apreender o que ele deseja transmitir em cada tênue linha textual. A mágica está em continuar a leitura, afeitos por descobrir novos mundos, personagens e curiosidades intrínsecas. Ao se dobrar o seu último parágrafo, sentimo-nos como desbravadores indômitos chegando por fim ao seu alvo.           
 
           
 

 

       

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Céu Está Aberto


Por Norbert Lieth

 
 
 
Ao orar, devemos pedir que o Senhor abra as janelas do céu para nossos pedidos? Será que precisamos orar até sentir que alcançamos o Senhor? Na verdade, essas são perguntas que, como cristãos, nem deveríamos fazer.
 
Imagine a cena: você foi convidado por um anfitrião generoso e abastado a participar de uma festa em sua propriedade. No convite está escrito expressamente que tudo estará preparado para a celebração e que os portões estarão franqueados a partir das 14 horas. Você chega ao lugar da festa, está dentro do horário, mas tem vergonha de entrar. Ao invés de tomar parte da festa, manda chamar o dono da casa e pede que ele abra a porta para você e o conduza para dentro. Como ele se sentiria? Valorizaria essa sua atitude? Será que ele não pensaria que você não levou a sério o que ele escrevera no convite? Não ficaria magoado?
 
Com certa frequência constato essa mesma postura em irmãos em Cristo e às vezes em mim mesmo. Em nossas orações tendemos a pedir ao Senhor que Ele abra as janelas do céu ou que franqueie nossa entrada à Sua presença, que Ele escancare as portas celestiais para nossos pedidos, para Suas bênçãos sobre nós, para o Seu agir em nosso favor e em favor de outros. Mas eu me pergunto:
 
 

Precisamos pedir que o Senhor abra os céus para nós?

 
Há cristãos que acham que precisam orar por tanto tempo até sentirem que o Senhor está ouvindo e só ficam satisfeitos quando têm a sensação de que chegaram à presença de Deus. Uma oração assim pode ser sincera, pode ser reverente, mas está errada, uma vez que não está levando a sério a Palavra de Deus.

 

O que a Bíblia diz sobre o céu aberto?

 
Desde a ressurreição e ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo, o céu está permanentemente aberto. No momento em que oramos a Jesus, no instante em que invocamos Seu Nome, já estamos em Sua presença. Ao pronunciar as primeiras palavras, Ele já está a nos ouvir e nos encontramos imediatamente na presença de Deus. Não importa se nossas emoções nos fazem sentir enlevados ou se não sentimos nada. Deus está nos ouvindo, o céu está aberto para nós – sempre!
 
O que Jesus consumou através de Sua morte e ressurreição é algo único e singular, que não existia antes em lugar algum e que deveríamos aproveitar muito mais pela fé.
 

Antes da vinda de Jesus ao mundo

 
Antes que Jesus viesse ao mundo e antes de Sua ascenção, o céu se abria apenas em certas ocasiões (revelações) e depois se fechava novamente. A culpa do céu cerrado foi a queda em pecado, e desde então, com poucas exceções, se manteve assim até Jesus realizar a obra de salvação por todos nós. O pecado se interpunha entre os homens e Deus e impedia seu acesso a Ele. Apenas aqui e ali Deus abria o céu para transmitir alguma mensagem específica.
 

No Antigo Testamento

 
Vejamos um exemplo bíblico do que estou dizendo: “Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, que, estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus” (Ez 1.1). Obviamente os céus se abriram porque estavam fechados. Nessa abertura, o profeta teve visões de Deus. Uma se destaca de forma especial. Ezequiel viu o Messias, que é Deus (veja Fp 2.6ss.): “Por cima do firmamento que estava sobre a sua cabeça, havia algo semelhante a um trono, como uma safira; sobre esta espécie de trono, estava sentada uma figura semelhante a um homem. Vi-a como metal brilhante, como fogo ao redor dela, desde os seus lombos e daí para cima; e desde os seus lombos e daí para baixo, vi-a como fogo e um resplendor ao redor dela. Como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva, assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do Senhor; vendo isso, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava” (Ez 1.26-28).
 
Quando comparamos todo esse relato com as descrições encontradas no Apocalipse, vemos uma forte harmonia e uma semelhança impressionante (Ap 1.12-17; Ap 4.2,8). Deus apareceu a Ezequiel em forma humana, o que certamente aponta para o Messias ainda antes de Sua vinda ao mundo. Mas como naquela ocasião Ele ainda não tinha chegado a esta terra, o céu necessariamente voltou a se fechar quando a visão cessou, vindo a se abrir de forma definitiva apenas quando o Messias entrou em cena.
 
 

O Messias abriu o céu

 
Com a vinda do Messias apareceu no mundo Aquele que Ezequiel vira séculos antes no céu que se abrira. Quando o Senhor Jesus começou Seu ministério e foi batizado no rio Jordão, aconteceu o seguinte: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Após a queda em pecado, o céu nunca tinha se escancarado dessa forma para qualquer ser humano. Com Ezequiel a abertura do céu aconteceu para que ele recebesse revelações. Mas com o Filho de Deus isso ocorreu para confirmá-lo em Seu ministério.
 
Da próxima vez que você for orar ou exercer algum ministério para o Senhor, por favor, lembre-se de que o céu não precisa ser aberto antes, mas que ele está sempre aberto sobre você.
Na Sua primeira vinda, Jesus já anunciava o tempo em que o céu estaria aberto para sempre: “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1.51). Jesus é a es cada para o céu; por Ele chegamos ao céu e por Ele o céu vem até nós.
 
É curioso observar uma coisa que certamente tem seu significado: tanto a passagem de Ezequiel como a de João falam primeiro em descer e depois em subir. Por Jesus ter subido dos mortos primeiro, agora as bênçãos celestiais descem até nós.

Com a ascenção  

 
Na Sua ascenção, Jesus adentrou os céus e mantém a porta aberta para sempre (ver Hb 4.14). O acesso ao Pai está livre. Aquilo que fora destruído pelo primeiro Adão foi restaurado por Jesus. A partir da subida de Jesus até o Pai não vemos mais a Bíblia dizendo que “os céus se abriram”, como foi dito a Ezequiel ou por ocasião do batismo de Jesus no Jordão. A partir desse momento vemos o céu aberto sempre, constante e continuamente, já que não voltou a se fechar depois que Jesus entrou por ele.
 
Uma grandiosa indicação de que agora o céu está permanentemente aberto e que temos acesso direto ao Pai é o dom do Espírito Santo, enviado a nós a partir do céu. Ele é o vínculo perene entre nós e o céu aberto. “...pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho, coisas essas que os anjos anelam perscrutar” (1 Pe 1.12).
 
Por essa razão Estêvão, cheio do Espírito Santo, podia dizer: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (At 7.56). Agora não lemos mais que “o céu se abriu” e sim “vejo os céus abertos”, porque não voltou a ser fechado depois que Jesus o abriu. Essa mesma realidade pode ser vista em outras situações semelhantes relatadas no Novo Testamento, como no caso de Pedro, de quem está escrito: “então, vi o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas” (At 10.11). João testemunha no Apocalipse: “Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” (Ap 4.1; veja Ap 19.11).
 
Da próxima vez que você for orar ou exercer algum ministério para o Senhor, por favor, lembre-se de que o céu não precisa ser aberto antes, mas que ele está sempre aberto sobre você. Assim como a pedra do sepulcro foi removida e o túmulo não conseguiu reter Jesus, da mesma forma a porta do céu está aberta para cada um de nós: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). 
 
 
(Norbert Lieth — Chamada.com.br)

domingo, 25 de outubro de 2015

ESQUECEMOS QUE ASSAD É A MAIOR RAZÃO DO ÊXODO DE SÍRIOS

Por Rasheed Abou-Alsamh

 
 
Quatro anos e meio depois do início da revolta popular contra a ditadura sangrenta do presidente sírio Bashar alAssad — que começou como protestos pacíficos contra o regime —, estamos vendo a tragédia humanitária de milhares de sírios arriscando suas vidas para fugir para a Europa. Com 250 mil já mortos na Síria por todos os lados, mais de quatro milhões de refugiados fora do país e mais de dez milhões deslocados internamente, a catástrofe da matança está longe do fim.
 
 
 
Marcelo



Em vez de clamar para que se pressione o regime de Assad no sentido de negociar um cessar-fogo e uma transição para um novo governo sem ele, e assim tirar a razão principal para esse êxodo sem precedente de refugiados para a Europa, os críticos de plantão, a maioria islamofóbicos e com inveja das nações árabes ricas, resolveram apontar o dedo para os países do Golfo por supostamente não terem aceitado refugiados sírios. A Anistia Internacional publicou um mapa do Oriente Médio na internet mostrando quantos refugiados cada país da região tinha aceitado. O minúsculo Líbano tem mais de 1,1 milhão; a Turquia, quase dois milhões; a Jordânia, quase 700 mil. Nos países do Golfo, botou “zero” para cada um. A verdade é um pouco mais complicada do que esse reducionismo, bom para enraivecer a opinião publica ocidental mas que não conta a história verdadeira.

A verdade é que nenhum dos países do Golfo assinou a convenção para refugiados da ONU, de 1951, que define quem é considerado um refugiado e estabelece regras de como eles devem ser tratados e protegidos. Por isso, esses países não têm uma categoria de vistos para refugiados e nem programas oficiais para lidar com esse tipo de problema. Com certeza, eles deveriam assinar a convenção e instituir vistos para refugiados. Isso facilitaria em muito a entrada deles nos países do Golfo e ajudaria os governos a monitorá-los e garantir que suas necessidades básicas fossem atendidas.
 

O governo da Arábia Saudita reagiu lentamente às acusações, e o Ministério de Relações Exteriores finalmente divulgou uma nota oficial em inglês em seu site, no dia 13 de setembro, dizendo que o reino tinha acolhido aproximadamente 2,5 milhões de sírios desde 2011. “Para assegurar a dignidade e a segurança deles, o reino adotou uma política que não os trata como refugiados e nem os bota em campos para refugiados,” disse o governo. “A eles foi dada a liberdade de movimentação dentro do país, e àqueles que queriam ficar aqui (umas centenas de milhares) foi dado o status de residentes legais, com o direito de receber tratamento médico gratuiro, entrar no mercado de trabalho e ingressar em escolas e universidades. Isso foi incluído num decreto real de 2012, que instruiu escolas públicas a aceitaram estudantes sírios. Segundo dados oficiais, o sistema de ensino público já aceitou mais de cem mil estudantes sírios.”
 

Além disso, o governo saudita lembrou que já deu US$ 700 milhões em ajuda financeira a refugiados sírios, principalmente aqueles no campo de Zaatari, na Jordânia. Essa ajuda humanitária incluiu o fornecimento de comida, material para alojamentos, tratamento médico em clínicas sauditas nos campos de refugiados e o pagamento do aluguel de um grande número de famílias sírias no Líbano e na própria Síria.
 

O jornalista saudita Jamal Khashoggi, em uma coluna de opinião no jornal “Al-Hayat”, disse que os refugiados sírios estavam indo para a Europa em massa porque querem fincar raízes em países onde podem se tornar cidadãos e ter uma vida boa. “A Arábia Saudita pode receber mais sírios, como alguns países europeus e organizações de direitos humanos estão ingênua ou maliciosamente exigindo,” ele escreveu. “Contudo, os sírios não querem ir para a Arábia Saudita como refugiados. Eles já tiveram o suficiente ao viver em campos de refugiados... e enquanto nós não lhes dermos seu país de volta, eles vão continuar a viajar em busca de um país onde eles possam construir um futuro, e a Arábia Saudita e os países do Golfo não podem lhes oferecer esta opção.”
 

Khashoggi defende que os países do Golfo já têm trabalhadores estrangeiros demais nas suas populações, especialmente os Emirados Árabes e o Qatar, onde os estrangeiros são mais numerosos do que os nativos numa proporção de cinco por um. Ele também diz que as economias do Golfo estão tendo dificuldade em achar empregos suficientes para todos os seus próprios cidadãos que precisam trabalhar. Isso é um problema sério na Arábia Saudita, onde o governo há anos tem um programa de nacionalização do mercado de trabalho, que, contudo, encontra muita resistência do setor privado. Este prefere contratar estrangeiros com salários mais baixos e que trabalham mais.
 

Em vez de pressionar Assad a negociar um cessar-fogo permanente na Síria, seus aliados, os russos e os iranianos, estão intensificando sua ajuda militar para apoiar um regime brutal, que continua matando centenas de sírios toda semana com ataques cruéis, usando bombas de barril lançadas de helicópteros. Agora, temos o apoio russo à expansão de uma base aérea militar em Latakia, na Síria, um reduto alauita do regime. Tal apoio é crucial para que Assad continue a acreditar que ele pode permanecer no poder, mesmo que somente numa parte reduzida da antiga Síria. Enquanto isso, o Estado Islâmico continua ocupando grande parte do norte e leste do país. E são os pobres civis sírios que continuam presos entre os dois lados. É uma lástima que poderia ter sido contida já faz muito tempo.
 
 
 
Rasheed Abou-Alsamh é jornalista
 
Fonte: O Globo. Edição de 18/09/2015

ADVERTÊNCIA SOBRE COBIÇA E AVAREZA

Por Geovani F. dos Santos



O apóstolo Paulo em sua primeira Epístola a Timóteo assevera que: “O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.10).  A questão da cobiça e do desejo de lucro mundano está muito presente neste fragmento de texto. Observe que o apóstolo descreve o amor ao dinheiro e, não o dinheiro propriamente dito, como a raiz de todos os males. O dinheiro em si é inofensivo. O que agrava o problema é o que se faz com ele, ou o que se coloca sobre ele. Jesus deixa isso claro quando diz: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração (Mt 6.19-21). Lucas, fazendo menção de uns dos discursos de Jesus ao povo, narra o episódio em que um homem pede ao Mestre que convença o seu irmão a repartir com ele uma herança e recebe estas incisivas e penetrantes palavras: “Homem, quem me pôs a mim como juiz ou repartidor entre vós? E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12. 14,15).  
 
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Pode-se perceber na exortação do Senhor uma importante advertência a todos aqueles que possuem riquezas ou se fiam nas mesmas como sua fonte de segurança neste mundo. A vida em si é o maior tesouro que alguém pode ter e o fato de se estar vivo é uma dádiva, um bem mais precioso do que qualquer conta bancária ou quantia que possa ser amealhada nesta existência temporal.  Acima, no texto de Mateus, é feita a menção sobre onde o coração está colocado e, isso, pode fazer toda a diferença na vida de alguém.  Eis aí a grande lição que o texto encerra, ou seja, o direcionamento que se faz tendo em vista o bem maior ou a maior riqueza, que não é material, e, sim, espiritual, é que determinarão o êxito ou fracasso espiritual.  Atentar para tais detalhes é imprescindível para se manter o equilíbrio no uso das finanças, mantendo-as sempre em seu devido lugar e, não dando à mesma, uma posição que só pertence à Divindade.  A tônica do ensino de Cristo revoluteia em torno de questões capitais que dizem respeito ao modo como os homens deste mundo agem, exemplo que não deve ser seguido pelos que desejam obedecer aos seus ensinos. Jesus não está afirmando que ter posses é errado; está apenas ensinando que não se pôde fazer delas uma espécie de deus, sendo subserviente ao seu poder e magnetismo material intrínseco.  Arrington (2004, p 403), Declara:
 

As palavras de Jesus nos proíbem que entendamos que as bênçãos do Reino sejam um armazenamento de coisas materiais, pois a sua declaração é esta: “ Vendei o que tendes e dai esmolas”. O foco aqui não é abandonar posses, mas como as usamos. Jesus não nos ordena literalmente que vendamos todas as nossas posses terrenas. Isso nos reduziria a pobreza e nos tornaria dependentes dos outros. Mas o seu interesse é que não nos tornemos escravos de nossas posses e que as usemos para ajudar os outros. Confiantes no cuidado de Deus, podemos ser generosos com que Ele nos dá. Se não estamos presos ao mundo, é fácil nos tornarmos servos do Reino e considerar as necessidades dos outros.

 
Como já dissemos é o fascínio das riquezas e a busca desenfreada pelas mesmas que é condenável pelas Escrituras. Quando Paulo fala que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (1Tm 6.10), ele usa  um provérbio grego para dar ênfase ao caráter nocivo da cobiça e da avareza na vida dos indivíduos, um fato que se torna ainda mais terrível quando é encontrado nos cristãos. Segundo Guthrie apud Arrington e Stronstad 2004, p.1481):  “A linguagem vívida usada por ele no original é de um monstro que arrasta as suas vítimas até o fundo, submergindo-as e afogando-as. As palavras “ruina” e “destruição” sugerem uma perda irreparável”.  

William Barclay, em seu Comentário do Novo Testamento, também é categórico no uso que se faz do dinheiro e mostra o mesmo como um caminho de duas vias. Vejamos:     
 

             O dinheiro em si mesmo não é nem bom nem mau; simplesmente é perigoso porque o amor ao mesmo pode ser mau. Com o dinheiro pode-se fazer muito bem; com ele também pode-se fazer muito mal. Com dinheiro podem-se satisfazer egoisticamente os próprios desejos; e com ele pode-se responder generosamente ao clamor do próximo necessitado. Com dinheiro pode-se comprar o caminho para as coisas proibidas e facilitar o atalho ao mal; com ele pode ser mais fácil para alguém viver como Deus quer que se viva. O dinheiro não é mau, mas é uma grande responsabilidade. O dinheiro outorga poder, e o poder tem um duplo sentido, porque se pode ser poderoso para bem e para mal.  
 

O uso do dinheiro envolve um comportamento ético que se não for seguido descamba para a corrupção e por sua vez à degeneração do caráter do indivíduo. Quando Paulo usa no seu texto a metáfora de um mostro que arrasta as suas vítimas ao fundo, para destruí-las, está demonstrando o poder maligno que o dinheiro tem de destroçar a vida dos homens se não for usado com temperança. Os filósofos gregos tinham conhecimento destes fatos e em seus escritos não faltaram advertências neste sentido. Vejamos:
 

  • Demócrito: "O amor ao dinheiro é a metrópole de todos os males".
  • Sêneca: "O desejo daquilo que não nos pertence, do qual surge todo o mal da mente".
  • Focilides: “O amor ao dinheiro é a mãe de todos os males".
  • Filo: O amor ao dinheiro que é o ponto de partida da maior transgressão da lei".
  • Ateneu: “O prazer do ventre é o começo e a raiz de todo o mal”.

  

Resultado de imagem para cobiça e gananciaEm uma época em que o “ amor ao dinheiro” é decantado pelas sociedades e até mesmo a Teologia se curvou ao mesmo, precisamos voltar nossos olhos aos ensinamentos de Cristo e dos seus apóstolos para que não venhamos a ser destruídos pelo “ monstro” da cobiça e da avareza, os quais já fizeram muitas baixas nos arraiais cristãos. As palavras de Cristo “acautelai-vos” e “guardai-vos” devem ter um peso judicioso em nossas mentes e precisam ser tratados com santo temor e tremor, haja vista que emitem a preocupação divina que tem como principal escopo a preservação de nossas almas. Que a admoestação do apóstolo Pedro em sua primeira carta esteja sempre presente em nossos corações. Leiamo-la: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma ” (1 Pe 2.11).

 

 

REFERÊNCIAS

 

ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento