segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A POLÍTICA PRAGMÁTICA DE MERKEL






A Europa precisa urgentemente da Turquia, e sem ela não poderá reduzir a pressão sobre as suas fronteiras

POR ALISON SMALE
 

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Com até um milhão de refugiados chegando este ano à Alemanha, a chanceler federal Angela Merkel encontra-se cada vez mais isolada na Europa, além de significativamente menos popular internamente do que durante a crise no euro, meses atrás.

Até agora, Merkel rejeitou todos os pedidos — o mais forte deles vindo de seu próprio bloco conservador — para limitar o fluxo de recém-chegados. Mesmo que a Alemanha não seja capaz de oferecer abrigo, ela argumenta que é muito pouco caridoso e fisicamente impraticável deter o fluxo humano num país com milhares de quilômetros de fronteiras terrestres — além de ser uma obrigação por seu passado nazista.

No entanto, o que ela e outros líderes europeus fizeram silenciosamente nas últimas semanas foi dificultar a política de asilo, restringir reuniões de família a refugiados e montar campanhas para impedir que pessoas saiam de seus países para a Europa. Nações dos Bálcãs, no meio da trilha migratória da Turquia e da Grécia para Alemanha e Suécia, têm sido incentivadas a barrar todos os imigrantes que não sejam sírios, iraquianos e afegãos.

Merkel costumava se opor à adesão turca à União Europeia, e a própria Europa duvida do respeito do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, aos direitos humanos. Mas o acordo com a Turquia é uma medida para atingir objetivos pragmáticos, não importa o quão contraditória pareça.

— A Europa precisa urgentemente da Turquia, e sem ela não poderá reduzir a pressão sobre as suas fronteiras — diz Jan Techau, diretor do Carnegie Europe, centro de estudos de Bruxelas. — A Alemanha e a UE estão fazendo um jogo de simpatia com Erdogan, quando praticamente todos desdenham dele. É um enorme compromisso político. Não é uma coisa particularmente bonita. Mas, no final, não há realmente mais o que fazer. Merkel também mudou na questão dos refugiados, diz Daniela Schwarzer, diretora de Europa do German Marshall Fund, centro de estudos dos EUA.

— Definitivamente, ela está mudando sua postura progressista e firme adotada no auge da crise, quando disse que precisava acolher os sírios. A retórica mudou.

Merkel está consciente não só da queda em sua aprovação — de 75% há seis meses para 50% agora — mas da ascensão do Alternativa para a Alemanha, partido que vem superando nas pesquisas o obstáculo de 5% de votos necessários para chegar a Parlamentos estaduais ou ao federal. No Leste, o movimento anti-Islã Pegida atrai milhares de pessoas a marchas semanais em Dresden.

A postura de Merkel sobre os refugiados tem mexido na política alemã. Nomes da esquerda que a criticavam elogiam sua firmeza em abrigar os necessitados. Os conservadores pedem cada vez mais um limite, e — menos publicamente — murmuram a possibilidade da substituição da chanceler, há uma década no poder.

No entanto, há poucas ou nenhuma alternativa, e tampouco há sinal de que Merkel enfrentará hostilidade aberta no congresso de dezembro do seu partido, a União Democrata-Cristã. Mesmo após os ataques de Paris, os alemães mais velhos, em particular, temem a guinada à direita mais ainda do que o terrorismo islâmico.


Fonte: O Globo

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