terça-feira, 19 de julho de 2016

QUANDO O MOCINHO VIRA BANDIDO


André Mello




Por Geovani F.dos Santos


Qual é a confiança da população na polícia? Até que ponto um cidadão de bem se sente seguro com a presença do aparato policial em suas comunidades? As respostas a estas questões são variadas, mas, infelizmente, a maioria delas não são nada agradáveis. Na verdade, a população como um todo desconfia dos entes públicos e tem razões para isso. É bem verdade que existem exceções, todavia, são muito rarefeitas, dado o universo dos malfeitos cometidos por agentes públicos que em vez de proteger acabam se tornando os algozes dos que deveriam assegurar proteção.

A desconfiança não reside apenas nos cidadãos que já estão fartos da prevaricação policial, mas também, dentro da própria polícia e nos próprios policiais que temem os seus parceiros porque os mesmos são envolvidos com ilicitudes e não possuem quaisquer escrúpulos. Foi isso que constatou o pesquisador César Muñoz Acebes da Human Rights Watch no Brasil. Ele entrevistou nos últimos seis meses mais de 30 policiais que trabalham em áreas com elevados índices de criminalidade. Em suas falas, disseram temer não só os traficantes, mas também outros policiais envolvidos no crime e violência. 

Como se pode contatar, policiais honestos e cumpridores da lei são acuados em sua ação porque temem represálias dos seus próprios colegas de farda que assumiram uma identidade dúbia, ou seja, são policiais e bandidos ao mesmo tempo. O medo é perceptível em cada discurso e, isso, evidentemente, é um elemento assustador. Revela que o sistema está minado pelo desvio e apodrecido moralmente para agir em conformidade com o que preconiza a lei. Em muitos batalhões, superiores louvam aos que matam os bandidos é o que declarou um policial entrevistado pelo pesquisador da Human Rights. Ele disse: 

 “Matar bandido é o que era exigido como bom resultado por meus superiores”.

 
Como se percebe a cultura de que “bandido bom é bandido morto” prevalece incrustado em nossa sociedade e, sobretudo, naqueles que deveriam respeitar o que reza a Constituição. Quando agentes da lei se tornam arbitrários e resolvem eles mesmos aplicar a lei sumariamente, sem o mínimo direito de defesa de quem está do outro lado, está, obviamente, criando um precedente perigoso e, isso, é um dos primeiros passos no caminho da barbárie. Quando leis não são cumpridas, o caos se estabelece e toda a sorte de desregramentos correm frouxos na mais completa anomia, o que é um acinte ao Estado de Direito e à liberdade democrática.            

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