terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Conceito de Pessoa



“Como mostrou o filósofo Zubiri, “a introdução do conceito de pessoa na sua peculiaridade foi obra do pensamento cristão”: o cristianismo afirmou e afirma que todo o ser humano – homem, mulher, escravo, deficiente… – é pessoa, com dignidade inviolável, porque é filho de Deus. Kant reflectirá, concluindo que nenhum ser humano pode alguma vez ser tratado como simples meio, pois é fim em si mesmo; as coisas são meios e, por isso, têm um preço – o homem, porque é fim, não tem preço, mas dignidade.”
(Anselmo Borges, DN)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A PERDA DO PERDÃO



Nos últimos 500 anos o Ocidente viveu o maior ataque cultural da história. Seguindo o magno processo contra a cultura cristã, nas suas três fases, entende-se a situação actual. Primeiro atacou-se a Igreja em nome de Deus. Depois descartou-se a divindade mantendo a moral cristã. Hoje desmantela-se a ética.
A primeira fase seguiu dois passos. Primeiro, com Lutero, Calvino e outros reformadores, agrediu-se a estrutura eclesial conservando o Cristianismo. A fé em Cristo era preciosa, apesar dos perversos eclesiásticos. Depois, através de Hume, Voltaire e outros teístas, o cientifismo deísta rejeitou a doutrina e ritos, acenando à divindade longínqua e apática d'"O Grande Arquitecto" e distorcendo a História para apagar o papel da Igreja.
A segunda fase do ataque dirigiu--se ao transcendente. Recusava-se Deus e a eternidade, pretendendo conservar as regras cristãs de comportamento social. O primeiro passo, de Feuerbach, Comte e outros ateus, quis demonstrar filosoficamente a inexistência formal de Deus na sociedade humanista ideal. O falhanço dos esforços teóricos levou Thomas Huxley, Bertand Russell e outros agnósticos ao ateísmo prático simplesmente desinteressado da questão religiosa.
A fase actual é de ataque frontal à moral cristã. Primeiro, com Saint-Simon, Marx e outros revolucionários, visou-se uma moral exclusivamente humana. Mas, como Nietzsche e Sartre tinham explicado, eliminando a referência metafísica, vivemos "Para lá do Bem e do Mal".
Para compreender os traços essenciais da atitude moral dominante é preciso lembrar o elemento novo e original que o Cristianismo trouxe à civilização há 2000 anos. Aí se situa o núcleo da luta moral da nossa era. Quando Cristo nasceu, a sociedade ocidental já possuía uma estrutura ética sofisticada. Homero, Zoroastro, Sócrates, Zenão, Epicuro e tantos outros tinham estabelecido um sistema complexo de virtudes, regras e comportamentos. No campo estrito da ética, a revelação cristã trouxe apenas um contributo: a misericórdia.

Artigo publicado na sessão Opinião do Diário de Noticias de Portugal 

sábado, 3 de setembro de 2011

O HEDONISMO


O prazer pelo prazer. O prazer imediato a qualquer preço. O prazer egoísta e egocêntrico. Mesmo que o meu prazer seja o desprazer de outros.Vivemos na idade do Prazer.

Está estabelecida nas sociedades ocidentais a falsa ideia de que o princípio do prazer é o referente mais elevado na vida. Como se o sofrimento não fosse a outra face da moeda do prazer. Como se fosse possível vivermos como seres humanos sem qualquer um dos dois.
O desconforto e o sofrimento são hoje considerados socialmente inadequados e por isso varridos para debaixo do tapete, como se fossem lixo existencial indesejável. “Tudo bem?” “Tudo em cima?” “Alto astral”. “Tristezas não pagam dívidas”.

Mas este conceito não se faz representar apenas no âmbito do chamado “espírito do mundo”. Também se vai verificando em algumas teologias e liturgias contemporâneas, onde o que conta é sempre e só a sensação de alcançar um estado de bem-estar, e onde nunca há lugar para a reflexão, a interiorização, a capacidade e a coragem de a pessoa ficar consigo mesma e encarar a sua face lunar sem medos nem subterfúgios.

“Quem sou eu?” já não é uma questão que se coloque, a não ser com finalidade instrumental. Na idade do Prazer já não importa quem sou, de facto, mas apenas que talentos tenho, que dons eu possuo, que possibilidades estão à mão, para fazer o quê com isso, tendo em vista o meu prazer.
O princípio do prazer não permite outra coisa que não seja uma espécie de estado de embriaguez permanente, onde o que importa não é a consciência da minha realidade intrínseca, mas sim a forma de me fazer sentir bem.