Por Geovani F. dos Santos
Deus
pode até parecer estar em silêncio, todavia, o fato de não se manifestar não é
de modo algum indicativo de que não nos esteja ouvindo ou mesmo velando por nós
de alguma maneira desconhecida. O Senhor por vezes prova os seus filhos e é bem
notório que todo o silêncio divino, posteriormente, redunda em um derramar de
muitas bençãos sobre a vida dos que esperam em sua bondade e misericórdia.
Se
cremos em Deus e, por sua vez, tenhamos feito a escolha de seguirmos a sua
soberana vontade, devemos estar certos de que haja o que houver, estaremos
sendo guiados por sua divina providência. Ele nos promete: “Não te deixarei, nem te
desampararei (Josué 1.5; Hebreus 13.5). O Senhor Jesus também nos
prometeu estar conosco “todos os dias até a consumação dos séculos”
(Mateus 28.20). É exatamente a certeza da presença dele que nos faz
serenos para enfrentarmos os dias maus, os dias de adversidade, quando a nebulosidade
da dúvida nos assaltar e o inimigo, aproveitando-se de nossa hesitação, tentar
nos desanimar insuflando ainda mais temores e angústias aos nossos corações.
O
bom mestre deixa bem explicitado que no mundo teríamos aflições, passaríamos por
crises e sofrimentos variados, mas em nenhum momento disse que estaríamos
sozinhos em meio à tempestade ou sem sua orientação em meio as ondas procelosas
do mar da existência. Um antigo hino, intitulado “O piloto” assim nos fala:
“Oh! Não temas sou contigo,
Teu piloto até o fim.
Oh! Não temas o perigo,
Eis a mão, confia em mim! ”
A
bela letra deste louvor mavioso é um lenitivo para as nossas almas e uma doce
consolação aos nossos corações muitas vezes abatidos pelos dissabores da vida; mas,
todavia, convictos de que a Suprema Providência, assim como cuida dos pardais,
também zelará por nossas vidas até o último momento. O salmista declara: "Porque
este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será nosso guia até à morte"
(Salmos 48:14).
A
adversidade no mundo pode até causar estranheza a um santo, no entanto, Pedro
deixa bem claro que não devemos ficar estupefatos e espavoridos diante dela.
Ele assevera:
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe; antes, glorifique a Deus nesta parte “ (I Pedro 4. 12-16).
Nos
dias de Pedro, ser cristão era uma posição muito perigosa. Muitos servos do
Senhor foram presos e martirizados porque serviam ao Mestre dos mestres, e,
portanto, tinham o conhecimento do preço a ser pago por aqueles que em verdade
desejavam servi-lo. O próprio Pedro sabia de antemão, que estava destinado ao
martírio. As palavras de Jesus ditas acerca dele a João deixam bem evidente que
tipo de morte lhe esperava. Vejamos o que Cristo vaticinou:
“Em verdade, em verdade Eu te afirmo: quando eras mais jovem, tu te vestias a ti mesmo e ias para onde desejavas; mas quando chegares à velhice, estenderás as mãos e outra pessoa te vestirá e te conduzirá para onde tu não queres ir. ” Isso falou Jesus, significando o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus. E assim que terminou de proferir essas palavras, acrescentou: “Segue-me! ”” (João 21.18).
As
perseguições e martírios, longe de abalar a fé dos santos, só fez corroborar mais
firmemente a disposição de permanecer leais ao Cordeiro e contribuir com a
pregação do Evangelho com grande poder e unção. Ao longo de todo primeiro e
segundo século da Era Cristã, o sangue dos santos mártires da Igreja de Jesus
Cristo regou o solo das arenas romanas e serviu de adubo para que as sementes
da salvação germinassem em milhares de vidas, as quais de bom grado, foram
alcançadas pelo testemunho e pregação dos apóstolos. Vejamos o que nos diz a História:
“As brutalidades cometidas contra os cristãos eram tais, que até os próprios romanos foram movidos pela compaixão. Nero desenvolveu requintes para as suas crueldades, e inventou castigos que só a mais infernal imaginação poderia conceber. Em particular, fez com que alguns fossem costurados em peles de animais selvagens e lançados aos cães para serem destroçados. Outros, com as vestes encharcadas de cera inflamável, foram atados aos postes de seu jardim particular, onde lhes atearam fogo para que ardessem como tochas de iluminação. A perseguição generalizou-se por todo o império romano. Contudo, o espírito do cristianismo só aumentava. Foi durante essa perseguição que os apóstolos Paulo e Pedro sofreram o martírio. Aos seus nomes pode-se acrescentar Erasto, tesoureiro de Corinto; Aristarco, o macedônio; Trófimo, de Éfeso, convertido através da mensagem de Paulo e que se tornou seu colaborador; José, comumente chamado Barsabás; Ananias, o bispo de Damasco; e cada um dos setenta.” [1]
O
sofrimento e a morte não eram desafios amedrontadores, pelo contrário, com
Cristo eram suportáveis, pois os mesmos santificavam e levavam para os céus. O
maior prêmio e maior dignificação concedidas a um Cristão, era a honra de ser
martirizado por seu Mestre. Assim o foram Paulo e próprio Pedro. O primeiro
decapitado e o segundo crucificado de cabeça para baixo por ordem do imperador
Nero. De Pedro é dito:
“Por 10 anos Pedro governou a Igreja na cidade Jerusalém, na Judéia, Samaria, no litoral e em Antioquia. No ano de 42 D.C. transferiu a Igreja para a sede do Império a cidade de Roma. Foi estratégia de evangelização. A parir do centro do Império seria mais fácil a locomoção para evangelizar. No tempo de Nero, em 67 D.C. , foi preso e crucificado nos arredores de Roma (atual Vaticano), além do rio Tibre. Conta à tradição apostólica que na hora da crucificação pediu aos algozes que fosse crucificado de cabeça para baixo, dizendo “Não sou digno de morrer como meu mestre Jesus”, que morreu em posição normal. Os algozes atenderam este pedido de Pedro”. [2]
Outra
grande coluna da Igreja teve o mesmo destino do apóstolo-pescador supracitado e
honrou o Senhor Jesus com o sacrifício de sua própria vida. Historiadores supõem
que Pedro e Paulo morreram na mesma época, juntamente com outros santos da
igreja primitiva, condenados pelo perverso imperador Nero. Quando em Éfeso, já
certo do fim de sua carreira, Paulo admoesta os crentes efésios e lhes declara
que não mais veriam o seu rosto neste mundo. As palavras contundentes e incisivas
do apóstolo levam os irmãos às lágrimas. Vejamos as suas últimas palavras aos de
Éfeso:
“ E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos” (Atos dos apóstolos 20.22-26). Escrevendo a Timóteo ele também fala de sua partida: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2 Timóteo 4:6).
O
fim da carreira terreal iminente já era previsto por Paulo, o seu coração
estava entregue inteiramente aos cuidados daquele que lhe chamou no Caminho de
Damasco para ser apóstolo aos gentios, não haviam nenhum motivo para melindres,
seu ministério estava cumprido. As lutas e sofrimentos agora ficarão neste
mundo, lhe aguardam gozos inauditos nas regiões etéreas da santidade. As palavras de Jesus permaneciam indeléveis em
seu coração, no entanto teria a honra de ouvi-las em alto e bom som no reino celestial.
O escritor e historiador Ball (1998, pág.
119), escreve a seguinte narrativa sobre os derradeiros momentos do apóstolo Paulo
em vida. Vejamos:
“ [...] Com o rosto pálido, porém de cabeça erguida, o apóstolo foi levado para fora dos muros da cidade. Ali, em meio a uma multidão hostil, o velho missionário da cruz levantou os olhos para orar. Muitas e muitas vezes, o Senhor o livrara de um momento como aquele. Contudo, muitos outros santos haviam enfrentado a morte, e a Graça de Deus seria suficiente a Paulo também. O Senhor Jesus sofrera uma morte vergonhosa fora dos muros de Jerusalém; mas para sua vitória, tornou a morte gloriosa a todo o cristão. Enquanto Paulo pensava na ressurreição, um riso de triunfo dançou-lhe nos olhos e brincou-lhe nos cantos da boca. Sua face estava radiante, brilhando com a luz de um outro mundo. O Capitão da guarda ordenou que parassem. O ar frio do inverno esfriara o cepo junto ao qual Paulo ajoelhou-se. Combati o bom combate, acabei a carreira; guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada. A lâmina da espada brilhou ao sol. Paulo fechou os olhos para a multidão ruidosa, e quando abriu-os de novo, estava na presença de Jesus de Nazaré, onde há plenitude de alegria e prazeres eternos (Salmo 16.11)” [3]
Por
mais que se tente compreender a história dos mártires e dos sofrimentos dos homens e mulheres da Igreja de Jesus ao longo dos séculos, sempre chegaremos a
nítida conclusão de que eles somente foram até às últimas circunstâncias por
amor ao Evangelho, porque de fato foram impactados pela mensagem do Nazareno a
tal ponto e profundidade que as suas vidas não eram mais preciosas para si mesmos; mas, que, estariam
dispostos a sacrificar tudo: bens, recursos, tempo, família, liberdade e a própria
existência para ter o direito ao sumum bonum da soberana vocação em
Cristo Jesus. Eles foram homens e
mulheres cujo mundo jamais será digno mesmos. Leiamos, pois Hebreus:
“…Os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos. Alguns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles” (Hebreus 11:33-38).
Que
exemplo deles nos acompanhe e inspire nesta jornada rumo aos céus, onde eles
nos esperam chegar!
[1]https://igrejamilitante.wordpress.com/2013/03/10/breve-relato-da-perseguicao-aos-cristaos-primitivos-e-a-igreja-catolica/
Acesso em 26/06/2016
[2]
http://www.abiblia.org/ver.php?id=3120/
Acesso em 26/06/2016
[3]
BALL, Charles Ferguson. A Vida e a Época
do Apóstolo Paulo. 1ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.