Por Geovani F dos Santos
Resolvi deixar registradas em
texto muitas de minhas atividades intelectuais ao longo da semana. Penso que na
época em que vivemos, marcada por futilidades, absurdidades e mediocridades
variegadas, um dos mais profícuos e benéficos
afazeres do indivíduo seria “pensar”. Não pensar de modo frívolo, sem direção
ou sentido, como o fazem os boçais. Mas, sim, com reflexão, lucubração e análise
detidas. Pensar como o fizeram Sócrates,
Platão, Aristóteles, Spinoza, Voltaire, Kant, Schopenhauer, Bérgson, Santayana,
Bacon, Willian James, Jesus, Paulo, etc...
Talvez muitos até digam que o
pensar não têm seu valor e que a filosofia seria cousa vã. No entanto, haveria
sensatez nesta asserção? Ou será que nos idiotizamos tanto que não mais
percebemos que quando não pensamos, somos pensados. Quão terrível é para um
homem não poder pensar por si mesmo, mas pensado por terceiros. Isto é manipulado,
controlado, conduzido por vontades alheias a ditames que não lhe fazem nenhum
sentido. Quando não pensamos por nós mesmos, tornamo-nos escravos de hábeis mestres
do ilusionismo, de prestidigitadores da verdade, de demagogos desalmados e de
vorazes e loquazes interlocutores do engano. Que, diga-se de passagem, infestam
nossos “guetos” e nossas veredas cotidianas.
Pensar leva-me a também pensá-los
e a intuir sobre suas condutas: Por que agem assim? Por que se entregam a pilhagem
de corações incautos? Por que iludem os símplices? Por que engodam os ingênuos?
Tento de alguma forma encontrar nexo nestes comportamentos psicopáticos e lupinos
que se manifestam em menor ou em maior grau em certos personagens ao logo da
história e continuam a ser perpetuados por homens de inúmeras matizes em nosso
tempo. Nesta estreita e íngreme senda do pensar, encontro razão em pensamentos
ancestrais, como os de Salomão, o grande pensador bíblico, que se entregou a
buscas intensas para conhecer sobre tudo, e, com efeito, chegou a triste e humilhante conclusão de que
não sabia nada! Como Sócrates e a sua famosa frase: “só sei que nada sei”.
O sábio rei de Israel pôde
concluir ao cabo quão fúteis são as glórias e prazeres humanos. Seria essa a
razão da amargura da alma do cientista bíblico em sua ânsia por um conhecimento
que terminava no ocaso da existência com a morte? Em Eclesiastes, o sábio filho
de Davi com Bateseba, revela detalhes da façanha humana que fariam a alegria
dos psicólogos e psicanalistas de plantão. Ele revela a insana e assaz busca
dos homens por prazer, riqueza e poder. Ele descortina a briga por interesses
inglórios, a tirania, o despotismo e a saga poluta da humanidade em sua
rebelião contra os céus. Tudo tão convincente!
E, nós, já sabíamos disso. Pois, as Escrituras
declaram categoricamente que no homem não habita bem algum. A mão que embala o
berço e mesma que produz a bomba! O ser que é capaz de amar é o mesmo que pode
devorar seus filhos nos caos e na miséria da guerra, como o fizeram filhos de
Abraão quando se viram em apuros, cercados de todos os lados pelas hordas da
Assíria, Babilônia e, posteriormente pelas legiões de Tito no ano 70 a.C. Isso
fora vaticinado e cumprido cabalmente como nos declara o profeta:
“De modo
que não repartirá com nenhum deles ao menos um pedaço da carne dos próprios
filhos que estiver devorando, pois nada lhe sobrará devido aos muitos
sofrimentos que teu adversário te infligirá durante o grande e devastador cerco
de todas as tuas cidades. Do mesmo modo, quanto à mulher
israelita mais gentil e delicada entre todas as de teu povo, tão fina e educada
que não ousaria tocar a terra com a planta do pé, seu olho se tornará maligno
para com o marido a quem ama e para com o próprio filho ou filha, não lhes entregando nem a
placenta do ventre nem os filhos que gerar; porquanto a verdadeira intenção
dela é devorá-los secretamente durante aquele horrível cerco e em meio aos
grandes sofrimentos que teu adversário desferirá sobre as tuas cidades” (
Deuteronômio 28.55-57).
A razão irrefletida poderia
dizer que isso foi um ato isolado decorrente das pressões de uma sociedade acossada por
inimigos em seu entorno e, que, em desespero, e sem alternativa de sobrevivência
chegou às vias do canibalismo. O fato é que isso revela muito de nossa natureza
e traz ao lume as nossas pulsões de vida e de morte tão propaladas por Freund.
Os homens sob dadas circunstâncias e sob certos aspectos podem irromper numa animalidade
tão irracional quanto os lobos de uma alcateia em inanição. Como bem declarou
Hobbes: Homo lupus homini.
Nossa espécie luta
contra ela mesma. Somos tão egoístas e mesquinhos que não conseguimos enxergar
no outro um ser melhor do que nós. Julgamos muitas vezes os melhores e os mais capazes,
contudo, não nos damos conta de que somos miseráveis, cegos e nus diante
daquele a quem haveremos de prestar contas. Condenamos nos outros as características
negativas que nós mesmos alimentamos e como hipócritas, pesamos que somos nós
mesmos, enquanto nos iludimos com os nossos próprios autoenganos. Mas, deixe
estar, ninguém poderá escapar do escrutínio daquele cujos olhos de chama de
fogo se assentará no trono e julgará os desígnios humanos com reto juízo