segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HOMO LUPUS HOMINI

Por Geovani F dos Santos


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Resolvi deixar registradas em texto muitas de minhas atividades intelectuais ao longo da semana. Penso que na época em que vivemos, marcada por futilidades, absurdidades e mediocridades variegadas,  um dos mais profícuos e benéficos afazeres do indivíduo seria “pensar”. Não pensar de modo frívolo, sem direção ou sentido, como o fazem os boçais. Mas, sim, com reflexão, lucubração e análise detidas. Pensar  como o fizeram Sócrates, Platão, Aristóteles, Spinoza, Voltaire, Kant, Schopenhauer, Bérgson, Santayana, Bacon, Willian James, Jesus, Paulo, etc...

Talvez muitos até digam que o pensar não têm seu valor e que a filosofia seria cousa vã. No entanto, haveria sensatez nesta asserção? Ou será que nos idiotizamos tanto que não mais percebemos que quando não pensamos, somos pensados. Quão terrível é para um homem não poder pensar por si mesmo, mas pensado por terceiros. Isto é manipulado, controlado, conduzido por vontades alheias a ditames que não lhe fazem nenhum sentido. Quando não pensamos por nós mesmos, tornamo-nos escravos de hábeis mestres do ilusionismo, de prestidigitadores da verdade, de demagogos desalmados e de vorazes e loquazes interlocutores do engano. Que, diga-se de passagem, infestam nossos “guetos” e nossas veredas cotidianas.

Pensar leva-me a também pensá-los e a intuir sobre suas condutas: Por que agem assim? Por que se entregam a pilhagem de corações incautos? Por que iludem os símplices? Por que engodam os ingênuos? Tento de alguma forma encontrar nexo nestes comportamentos psicopáticos e lupinos que se manifestam em menor ou em maior grau em certos personagens ao logo da história e continuam a ser perpetuados por homens de inúmeras matizes em nosso tempo. Nesta estreita e íngreme senda do pensar, encontro razão em pensamentos ancestrais, como os de Salomão, o grande pensador bíblico, que se entregou a buscas intensas para conhecer sobre tudo, e, com efeito,  chegou a triste e humilhante conclusão de que não sabia nada! Como Sócrates e a sua famosa frase: “só sei que nada sei”.

O sábio rei de Israel pôde concluir ao cabo quão fúteis são as glórias e prazeres humanos. Seria essa a razão da amargura da alma do cientista bíblico em sua ânsia por um conhecimento que terminava no ocaso da existência com a morte? Em Eclesiastes, o sábio filho de Davi com Bateseba, revela detalhes da façanha humana que fariam a alegria dos psicólogos e psicanalistas de plantão. Ele revela a insana e assaz busca dos homens por prazer, riqueza e poder. Ele descortina a briga por interesses inglórios, a tirania, o despotismo e a saga poluta da humanidade em sua rebelião contra os céus.  Tudo tão convincente!  E, nós, já sabíamos disso. Pois, as Escrituras declaram categoricamente que no homem não habita bem algum. A mão que embala o berço e mesma que produz a bomba! O ser que é capaz de amar é o mesmo que pode devorar seus filhos nos caos e na miséria da guerra, como o fizeram filhos de Abraão quando se viram em apuros, cercados de todos os lados pelas hordas da Assíria, Babilônia e, posteriormente pelas legiões de Tito no ano 70 a.C. Isso fora vaticinado e cumprido cabalmente como nos declara o profeta:

“De modo que não repartirá com nenhum deles ao menos um pedaço da carne dos próprios filhos que estiver devorando, pois nada lhe sobrará devido aos muitos sofrimentos que teu adversário te infligirá durante o grande e devastador cerco de todas as tuas cidades. Do mesmo modo, quanto à mulher israelita mais gentil e delicada entre todas as de teu povo, tão fina e educada que não ousaria tocar a terra com a planta do pé, seu olho se tornará maligno para com o marido a quem ama e para com o próprio filho ou filha,  não lhes entregando nem a placenta do ventre nem os filhos que gerar; porquanto a verdadeira intenção dela é devorá-los secretamente durante aquele horrível cerco e em meio aos grandes sofrimentos que teu adversário desferirá sobre as tuas cidades” ( Deuteronômio 28.55-57).
 
A razão irrefletida poderia dizer que isso foi um ato isolado decorrente  das pressões de uma sociedade acossada por inimigos em seu entorno e, que, em desespero, e sem alternativa de sobrevivência chegou às vias do canibalismo. O fato é que isso revela muito de nossa natureza e traz ao lume as nossas pulsões de vida e de morte tão propaladas por Freund. Os homens sob dadas circunstâncias e sob certos aspectos podem irromper numa animalidade tão irracional quanto os lobos de uma alcateia em inanição. Como bem declarou Hobbes: Homo lupus homini.

Nossa espécie luta contra ela mesma. Somos tão egoístas e mesquinhos que não conseguimos enxergar no outro um ser melhor do que nós. Julgamos muitas vezes os melhores e os mais capazes, contudo, não nos damos conta de que somos miseráveis, cegos e nus diante daquele a quem haveremos de prestar contas. Condenamos nos outros as características negativas que nós mesmos alimentamos e como hipócritas, pesamos que somos nós mesmos, enquanto nos iludimos com os nossos próprios autoenganos. Mas, deixe estar, ninguém poderá escapar do escrutínio daquele cujos olhos de chama de fogo se assentará no trono e julgará os desígnios humanos com reto juízo

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