terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA

Por Geovani F. dos Santos


Na manhã em que acordamos existem mil encantos escondidos esperando-nos como um abraço divino. Quando os primeiros raios de sol dardejam a janela e iluminam o quarto somos levados a um êxtase contemplativo cercado por sensações e encantamentos ímpares. Num pequeno instante transportamo-nos em nossa imaginação e, num dado momento, sacamos reminiscências antigas do baú da memória guardadas em algum recôndito secreto de nosso ser. Uma a uma estas memórias se tornam nítidas, como se estivéssemos diante da própria realidade que nos saúda com detalhes magníficos de um tempo remoto de nossas vidas. Creio que todo o ser humano tem estes “insights” ligeiros como flashes de uma máquina fotográfica que lançam luz sobre o passado e nos permitem revisitar os nossos museus particulares da alma.

Em um destes flashes posso ver-me ainda criança correndo pela rua livremente e em pleno vigor da infância, experimentando todas as sensações possíveis daquele momento singular da vida. Recordo-me da goiabeira em que subíamos em busca de goiabas suculentas, das correrias no quintal e dos muitos colegas que se uniam a nós naqueles instantes de folguedo pueril. Lembro-me dos pés de “canema”, uma certa planta com frutos pretos que usávamos como chamariz para capturarmos alguns passarinhos com a esparrela. Naquela época a beira da lagoa era cheia destes arbustos e os pássaros atraídos pelos seus frutos infestavam aquele nicho particular.

Nós éramos experts na confecção de arapucas, esparrelas e ratoeiras que eram usadas para diferentes finalidades de captura. As esparrelas e as arapucas eram usadas para prendermos os pássaros –  bem-te-vis, rolinhas, anus e sanhaços.  Já as ratoeiras eram confeccionadas com latas de óleo quadradas, muito comuns nos anos 80, ou mesmo com latas de tinta e eram usadas para pegar guaiamuns. Nós cortávamos a parte de cima da lata, cortávamos um pedaço de madeira do tamanho da parte cortada para que servisse de tampa, fixávamos a tampa com arames amarrados em sua lateral e pregávamos nesta tampa de madeira um pequeno cabo de modo que pudéssemos fazer o movimento de abrir e fechar para cima e para baixo. Para dar pressão e impedir que o bicho saísse da lata era usada uma liga de elástico de câmara de ar de bicicleta.


Na parte superior da lata em sua traseira, fazíamos um pequeno orifício onde era introduzido um pequeno arame com duas pequenas pontas dobradas uma na parte de cima e outra na parte de baixo. A parte de cima segurava o cabo, impedindo que ele se dobrasse e fechasse a ratoeira. A parte de baixo ficava no interior dela e era onde prendíamos uma banda de limão. O guaiamu era atraído pelo cheiro do limão galego, entrava dentro da lata e quando puxava o limão com as suas puãs soltava o aramezinho que prendia o cabo, fechando a tampa e confinando-o dentro da armadilha. Depois de capturados os guaiamuns, tínhamos duas opções. Ou os comíamos ou os deixávamos dentro de uma caixa alimentando-os com restos de comida para que ficassem cevados. Na verdade, tudo era uma grande diversão. E, nós, gostávamos muito de tudo aquilo. Era o nosso mundo particular. Daria tudo para voltar aquele momento e reviver tudo de novo.  Pena que isso é impossível.

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