Por Geovani F. dos Santos
Na
manhã em que acordamos existem mil encantos escondidos esperando-nos como um
abraço divino. Quando os primeiros raios de sol dardejam a janela e iluminam o
quarto somos levados a um êxtase contemplativo cercado por sensações e
encantamentos ímpares. Num pequeno instante transportamo-nos em nossa
imaginação e, num dado momento, sacamos reminiscências antigas do baú da
memória guardadas em algum recôndito secreto de nosso ser. Uma a uma estas
memórias se tornam nítidas, como se estivéssemos diante da própria realidade
que nos saúda com detalhes magníficos de um tempo remoto de nossas vidas. Creio
que todo o ser humano tem estes “insights”
ligeiros como flashes de uma máquina fotográfica que lançam luz sobre o passado
e nos permitem revisitar os nossos museus particulares da alma.
Em
um destes flashes posso ver-me ainda criança correndo pela rua livremente e em
pleno vigor da infância, experimentando todas as sensações possíveis daquele
momento singular da vida. Recordo-me da goiabeira em que subíamos em busca de
goiabas suculentas, das correrias no quintal e dos muitos colegas que se uniam
a nós naqueles instantes de folguedo pueril. Lembro-me dos pés de “canema”, uma
certa planta com frutos pretos que usávamos como chamariz para capturarmos
alguns passarinhos com a esparrela. Naquela época a beira da lagoa era cheia
destes arbustos e os pássaros atraídos pelos seus frutos infestavam aquele
nicho particular.
Nós
éramos experts na confecção de
arapucas, esparrelas e ratoeiras que eram usadas para diferentes finalidades de
captura. As esparrelas e as arapucas eram usadas para prendermos os pássaros – bem-te-vis, rolinhas, anus e sanhaços. Já as ratoeiras eram confeccionadas com latas
de óleo quadradas, muito comuns nos anos 80, ou mesmo com latas de tinta e eram
usadas para pegar guaiamuns. Nós cortávamos a parte de cima da lata, cortávamos
um pedaço de madeira do tamanho da parte cortada para que servisse de tampa,
fixávamos a tampa com arames amarrados em sua lateral e pregávamos nesta tampa
de madeira um pequeno cabo de modo que pudéssemos fazer o movimento de abrir e
fechar para cima e para baixo. Para dar pressão e impedir que o bicho saísse da
lata era usada uma liga de elástico de câmara de ar de bicicleta.
Na
parte superior da lata em sua traseira, fazíamos um pequeno orifício onde era
introduzido um pequeno arame com duas pequenas pontas dobradas uma na parte de
cima e outra na parte de baixo. A parte de cima segurava o cabo, impedindo que
ele se dobrasse e fechasse a ratoeira. A parte de baixo ficava no interior dela
e era onde prendíamos uma banda de limão. O guaiamu era atraído pelo cheiro do
limão galego, entrava dentro da lata e quando puxava o limão com as suas puãs
soltava o aramezinho que prendia o cabo, fechando a tampa e confinando-o dentro
da armadilha. Depois de capturados os guaiamuns, tínhamos duas opções. Ou os
comíamos ou os deixávamos dentro de uma caixa alimentando-os com restos de
comida para que ficassem cevados. Na verdade, tudo era uma grande diversão. E,
nós, gostávamos muito de tudo aquilo. Era o nosso mundo particular. Daria tudo
para voltar aquele momento e reviver tudo de novo. Pena que isso é impossível.
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