O denominado fundamentalismo cristão nasceu através de uma iniciativa que se pretendia de reacção à teologia liberal que grassou na Europa desde o século XIX.
Alguns líderes baptistas americanos, que não se reviam na abordagem liberal, reuniram-se para estabelecer algumas bases de fé a que chamaram “The Fundamentals”. Daí passarem a ser denominados “fundamentalistas”, aludindo ao “firme fundamento” referido por S. Paulo em carta a Timóteo (2 Tm 2:19).
Este movimento caracterizou-se por uma leitura escatológica dispensacionalista, com ênfase no final dos tempos e na segunda vinda de Cristo, e recusavam-se a utilizar outra tradução da Bíblia (em inglês) que não fosse a velha King James. Criaram escolas bíblicas como a de Dwight L. Moody, em Chicago (1886) para defender a ortodoxia da fé contra Harvard, Yale e Princeton, influenciadas pelos racionalistas alemães.
O que hoje se conhece como fundamentalismo cristão surgiu no pós-guerra para se opor à teologia liberal, ao darwinismo, e à alta crítica alemã, podendo resumir-se desta forma simples: inerrância da Bíblia; crença no nascimento virginal, divindade, expiação vicária, ressurreição corpórea e segunda vinda de Cristo; premilenarismo; historicidade dos milagres; separação, relativamente a apóstatas e ecuménicos.
Neste sentido é um erro fazer equivaler fundamentalismo a extremismo terrorista, uma vez que os fundamentalistas cristãos apenas procuram preservar a sua fé em bases que eles consideram serem sãs e sólidas. Nada têm que ver com terrorismo, antes pelo contrário, já que nunca tiveram a pretensão de mudar a sociedade pela força das armas e porque desenvolvem muitas vezes uma postura escapista e socialmente pouco interventiva, com os olhos postos no segundo advento de Cristo.
Por isso, o jovem terrorista norueguês Anders Behring Breivik, autor do recente massacre de Oslo, não é um “fundamentalista cristão” ao contrário do que pintam os média, até porque seria eventualmente luterano e os luteranos não têm qualquer tradição fundamentalista. É apenas um pobre coitado, confuso, que nem sabe o que é ser cristão, e que se calhar nunca ouviu falar em fundamentalismo cristão.
Ao ler a comunicação social verifica-se que dá muito jeito aos jornalistas e comentadores chamar a este indivíduo “fundamentalista cristão”, de modo a fazer equivaler este fenómeno ao do fundamentalismo islâmico, para poderem estabelecer uma perspectiva de compreensão lógica, ligando extremismo religioso e terrorismo político. Não conheço suficientemente o Islão, mas há aqui uma diferença e um problema, é que há uma corrente cristã assim designada, “fundamentalista”, e que está nos antípodas da violência.
Mas se há alguma coisa que este triste acontecimento comprova é que a tendência para o mal está inscrita no comportamento humano, independentemente da etnia, cultura, geografia, cor da pele, nível de vida, educação ou religião.
Pessoalmente aprecio cada vez menos os ismos. Embora partilhe crenças comuns com os fundamentalistas, mantenho uma visão diferenciada noutros aspectos. E tenho algumas reservas. Antes de mais porque o movimento fundamentalista é reactivo e não proactivo. E depois porque tenho dificuldade com purismos de qualquer espécie.
No fundo, todos se sentem os mais próximos da verdade. Na política como na religião, todos acham que são os mais puros, os mais genuínos.
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