António Canoa, Pastor da Igreja Luterana de Portugal
Sempre existiram homens que se levantaram querendo ser doutrinadores, juízes e executores da humanidade, em nome de Deus ou de determinada Igreja. É obvio que estes homens não agem em nome de Deus, nem da religião ou da Igreja. Essas pessoas agem por conta própria ou, no máximo, são representantes de pequenos grupos isolados. Normalmente, radicalismos não representam o todo.
As últimas informações apontam para o autor dos atentados na Noruega como sendo um cristão luterano. É possível que ele tenha frequentado alguma igreja luterana ou tenha lá o seu nome registado, visto a Noruega ser um país luterano. Mas ou ele nunca aprendeu o que é ser um cristão luterano ou os seus conflitos internos são tão grandes que perdeu a noção do que é ser cristão luterano.
Um verdadeiro cristão luterano segue o ensinamento de Jesus, que dizia: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” O seu radicalismo dizia: “Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos seus amigos.” Por isso, é impossível alguém dizer-se seguidor de Jesus e de sã consciência sair por aí a fazer massacres. É um contra-senso.
Muitas vezes as pessoas arvoram-se em advogados de Deus, mas Deus não instituiu advogados sobre a Terra, para o defenderem ou aos seus interesses. Deus instituiu testemunhas. Mas testemunhas não lutam, não brigam, não defendem, apenas contam o que sabem.
Religião quer dizer religar. A religião serve para religar o homem pecador a Deus. Por isso, religião jamais poderá produzir a morte. Religião por força da sua expressão tem que produzir vida. O autor dos atentados não representava Deus, não representava a religião, não representava a Igreja Luterana, ele representava-se a si próprio e aos seus conflitos internos…
Texto publicado no Diário de Notícias via Ovelha perdida
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