segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CORAÇÕES INSENSÍVEIS E OUVIDOS MOUCOS

Por Geovani F. dos Santos



"A quem falarei e testemunharei, para que ouçam? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos, e não podem ouvir?" ( Jr 6.10).

A condição espiritual de Israel tornou-se insustentável. O quadro de degradação moral e religiosa chegara a níveis alarmantes. Os sacerdotes e os profetas perderam a visão, adotando um comportamento abominável e perverso. Há muito deixaram de observar a lei do Altíssimo. Preferiam seguir seus próprios caminhos e ouvir seus corações enganosos a prestar atenção a bondosa voz de Deus.






Jeremias deixa claro em suas palavras que a causa da ruína de Jerusalém foi sua iniquidade, pois deixaram de praticar o bem. O seu indiferentismo é atestado pelas seguintes palavras do profeta:  " eis que os seus ouvidos estão incircuncisos"(Jr 6.10a ). A declaração demonstra a insensibilidade dos governantes,  dos religiosos e do próprio povo em dar crédito as predições judiciosas do atalaia de Deus. Haviam chegado a um grau de impiedade e impenitência tão elevadas que já não davam mais ouvidos aos vaticínios proferidos, e, nem tampouco, se mostravam dispostos ao arrependimento. O juízo estava às portas, e viria como um turbilhão insopitável na figura de Nabucodonosor.


A Bíblia assevera que encontrou-se desatino e loucura nos profetas, cada qual fazia o que bem entendia e não buscavam o que era reto. Não consideravam a justiça divina. Não se importavam em serem trazidos a juízo. Os seus corações se obscureceram, suas mentes se embotaram e tornaram-se réprobos e abomináveis prevaricando contra os céus.



O relato do desvio de Jerusalém e do seu declínio espiritual falam bem alto aos nossos corações como um aviso solene. Não deveríamos também atentar para o passado tendo em vista vivermos no presente em santo temor e tremor diante do Deus Santo. Ou permaneceremos fazendo ouvidos moucos às advertências do céu?


Tal atitude inconsequente, semelhantemente a percebida no povo judeu pós-exílio, também redundará em frutos amargos aos que a imitarem . Não existe outro caminho para se alcançar o favor divino senão o da obediência incondicional ao desígnio de Jeová. Israel provocou a ira do Senhor ao viver de modo relapso e dissoluto. Sua negligência no tocante à lei e o seu descaso para com as coisas sagradas teriam um preço elevado  que eles sentiriam na própria carne.


Mais uma vez o profeta Jeremias proclama em nome do Senhor: "Pelo que estou cheio da ira do Senhor; estou cansado de a conter. Derrama-la-ei sobre crianças pelas ruas, e nas reuniões de todos os jovens; porque até o marido com a mulher serão presos, e o velho com o decrépito. As suas casas passarão a outrem, os campos e também é também as mulheres, porque estenderei a mão contra os habitantes desta terra, diz o Senhor" ( Jr 6.11,12).


As palavras do profeta aqui encarnam o sentimento do Senhor. Seu coração arde de zelos e sua alma sente-se premida com a visão da calamidade vindoura. Tinha ciência das agruras e atrocidades que sobreviria à nação pecadora, mas tal julgamento era inexorável. Seria derramado com a impetuosidade  de um dilúvio, tão poderoso quanto o fragor das ondas do mar bravio. 


No livro das Lamentações encontramos o plangente relato do profeta diante da calamitosa situação da cidade agora sob domínio babilônico. Em sua elegia, o profeta descreve os horrores que sobrevém ao povo e a cidade. Em tom dramático, Jeremias se atém aos acontecimentos transmitindo com detalhes a ruína da filha de Sião. Vejamos: "Como se acha solitária aquela cidade dantes tão populosa! Tornou-se como viúva a que foi grande entre as nações; e princesa entre as províncias tornou-se tributária! Continuamente chora de noite, e as suas lágrimas correm pelas suas faces, não tem quem a console entre todos os seus amadores; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos" ( Lm 1.1,2). 


 O quadro de desolação pintado pelo profeta nos dá um ideia do rigor do castigo que adveio sobre Judá. A cidade transformou-se em ruínas e a sua formosura outrora decantada pelos salmistas transmudou-se em fealdade. Restava agora o lamento em decorrência do remorso que lhes carcomia a alma como um câncer. Foram avisados, mas não retrocederam. A vara agora lhes fustigava até a medula! Não encontrou consolo sequer naqueles que se diziam seus amigos, pois todos a deixaram. Tornaram-se pérfidos e desleais os que se diziam próximos. Os seus aliados, descritos como "amadores ou amantes" ( Lm 1 .1), voltaram-lhes as costas, tornaram-se inimigos. Foram postos por objeto de escárnio e assobio, um motejo entre as nações. Esses "amantes" aqui mencionados, são os seus aliados, aos quais escolheu ou preferiu no lugar do Senhor. Jeremias faz menção destes povos com que Judá adulterou usando palavras duras, leiamos: 


"Passai às terras do mar de Chipre, e vede; mandai mensageiros a Quedar, e atentai bem, e vede se jamais sucedeu cousa semelhante. Houve alguma nação que trocasse seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo, a mim me deixaram, o manancial das águas vivas,e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retém as águas. Acaso é Israel escravo ou servo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa? Os leões novos rugiram contra ele, levantaram a sua voz; da terra dele fizeram uma desolação; as suas cidades estão queimadas, e não há quem nela habite. Até os filhos de Mênfis e de Taines te passaram o alto da cabeça. Acaso tudo isto não te sucedeu por haveres deixado o Senhor teu Deus, quando te guiava pelo caminho? Agora, pois, que lucro terás indo ao Egito para beberes as águas do Nilo; ou indo à Assíria para beberes as águas do Eufrates? A tua malícia te castigará, e as tuas infidelidades te repreenderão  sabe, pois, é vê, que mau e quão amargo é deixares o Senhor teu Deus, e não teres temor de mim, diz o Senhor dos exércitos ( Jr 2. 10-19). 


 Em tom Judicioso, o profeta apresenta um libelo condenatório contra o povo apontando como causa da desgraça o desvio espiritual. Deixaram o Deus vivo para seguirem após os falsos deuses das nações. Como ele mesmo acentua em suas palavras plangentes e, perceptivelmente embargadas : " O meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito" ( Jr 2.11 ). Estes versículos revelam a apostasia e a rejeição de Israel ao Senhor. Foram ingratos para com Santo de Israel, fazendo nenhum caso daquele que era sua única esperança. Esqueceram do pacto eterno de fidelidade de Abraão,Isaque e Jacó.

Continua...

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