Por Geovani F. dos Santos
"Filho meu, atenta para as minhas palavras e as minhas razões inclina os teus ouvidos" ( Pv 4.20).
Dar ouvidos às advertências divinas é uma questão de vida ou morte, e somente os sábios atentam para isso. Quantas vezes sentimos a repreensão divina em nosso íntimo e a acatamos? Uma voz de súbito que irrompe no âmago de nossas consciências pedindo ou ordenando que nos afastemos deste ou daquele caminho! Pois é, Deus tem os seus meios e os usa para nos despertar. Mas, será que estamos de fato inclinados a ouvi-lo, ou persistimos em nossa contumácia?
O homem traz em si os gérmens da queda, o que traz de roldão a desobediência. Como os nossos primeiros pais no Éden que foram enganados pela serpente por violarem a ordem divina, ainda hoje, insistimos em trilhar o caminho da obstinação e da rebeldia para nossa própria desgraça. Muitas vezes preferimos o nosso conforto e, mesmo, as nossas conveniências; a admitir que podemos estar na contramão da Palavra.
Embora Deus seja misericordioso e longânimo para conosco, não podemos frustrar a sua longanimidade sob pena de colhermos frutos amargos na vida. As advertências divinas são como sinalizações de trânsito colocadas na estrada para a segurança dos condutores. Burla-las é muito grave e, até mesmo, pode ser fatal. Muitos hoje sofrem por terem inflingido as regras de modo doloroso. Se tivessem sido sábios em suas escolhas ou decisões, estariam livres de atropelos, pois Deus deseja somente o nosso bem!
Charles Swindoll, em seu livro "Vivendo Provérbios" declara :
"Na maioria dos casos, sabemos o que temos que fazer. Simplesmente, não colocamos em prática o que sabemos. Assim, passamos nossos dias suportando as consequências dolorosas e irritantes de seguir o nosso próprio caminho".
Adão sentiu na pele as repercussões de sua violação a lei divina ao ser expulso do Éden. O resultado não foi apenas interior, mas abrangeu todas as áreas da vida humana até os dias de hoje.
Philip Schaff, lista oito conseqüências distintas da queda desenvolvidas por Agostinho. Vejamos:
1. A própria queda;
2. A perda da liberdade;
3. A obstrução do conhecimento. A capacidade intelectual do homem era muito maior na criação do que após a queda;
4. A perda da graça de Deus;
5. A perda do paraíso;
6. A presença da concupiscencia;
7. A morte física;
8. A culpa hereditária;
As consequências do pecado são claras e inquestionáveis. Vemos com os nossos olhos os resultados da Queda de maneira patente, não podemos ignorá-los ou contestá-los arbitrariamente.
Agostinho considerava o pecado original como um castigo justo para Adão e para todos aqueles a quem ele representava. Ele escreve no The City of God :
"O pecado [de nossos primeiros pais] foi um desprezo à autoridade de Deus. Deus criou o homem; ele o fez à sua própria imagem; ele o estabeleceu acima dos outros animais; ele o colocou no Paraíso; o enriqueceu com todo o tipo de abundância e segurança; não lhe impôs nem muitos, nem grandes nem difíceis mandamentos mas, a fim de tornar uma obediência sadia fácil para ele, lhe deu um único pequeno e leve preceito pelo qual lembraria à criatura, cujo serviço deveria ser livre, de que ele era Senhor. Consequentemente, foi justa a condenação que se seguiu e uma condenação tal que o homem, que através da manutenção dos mandamentos deveria ter sido espiritual até mesmo em sua carne, se tornou carnal até mesmo em seu espírito. E assim como em seu orgulho, ele buscou ser sua própria satisfação, Deus, em sua justiça, o abandonou em si mesmo, não para viver na independência absoluta que ansiava mas, no lugar da liberdade que desejava, para viver insatisfeito consigo mesmo em uma sujeição dura e miserável a quem, através do pecado, havia se submetido. Ele foi condenado, a despeito de si mesmo, a morrer em corpo assim como havia se tornado, por vontade própria, morto em espírito, condenado até mesmo à morte eterna (não tivesse a graça de Deus o libertado) porque havia renunciado à vida eterna. Qualquer um que pense que este castigo foi excessivo ou injusto, mostra a sua inabilidade para medir a grande iniquidade de pecar onde o pecado podia tão facilmente ser evitado."
É lastimável, mais tudo poderia ter sido evitado se os bons conselhos do Altíssimo fossem ouvidos e praticados. Todavia, como isso nem sempre acontece, paga-se a pena da transgressão deliberada contra a vontade divina com todos os seus resultado funestos.
Paulo declara que através de Adão o pecado veio ao mundo. Por meio dele, todos os homens fizeram-se pecadores.Vejamos:
"Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.
Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei.
No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir" ( Rm 5.12-1).
As engrenagens da desobediência andam de mãos dadas com o pecado e a morte. Por mais perspicaz que um homem seja, não poderá escapar dos efeitos desta mistura explosiva.Sobre esta engrenagem destrutiva Swindoll assevera:
"A engrenagem da desobediência não é fácil nem nova. Infelizmente, ela tem caracterizado a experiência humana, praticamente desde que os seres humanos apareceram na terra".
Partindo dessa premissa, podemos entender como ao longo dos séculos a humanidade sofre e geme sobre este tirano senhor, implacável e cruel. Como uma espiral ascendente, o pecado tem cativado e subjugado suas vítimas no decurso da história dos homens. Esse círculo vicioso só é vencido quando se aceita a graça e a liberdade provenientes do Calvário. Onde Cristo desferiu um golpe mortal contra a morte e o pecado. Sejamos obedientes!