Breynner Ricardo de Oliveira, economista Doutor em Educação, mineiro esteve no Rio para um seminário sobre políticas públicas na Casa de Rui Barbosa
“Sou mineiro de Belo Horizonte e trabalho na Universidade Federal de Ouro Preto, onde coordeno um programa de formação de professores. Venho muito ao Rio, eu e minha esposa pensamos em ter uma casa aqui. Sou economista e me interesso em aplicar a teoria econômica na análise da educação.”
Conte algo que não sei.
Muitas vezes, os avaliadores de políticas públicas estão preocupados com as partes visíveis dos programas e das ações. As avaliações de impacto, de custo-benefício e de efetividade. Minha preocupação é com uma parte que está em camadas abaixo, que é como esses indivíduos, os implementadores das políticas, decidem, como eles pensam e agem.
Quem são eles?
Aqueles que estão nas escolas, os professores. A questão por trás da implementação nessa perspectiva é ver como essas políticas articulam esses sujeitos. Descrever como esse processo se dá, menos do ponto de vista dos desenhos institucionais e mais como os indivíduos interpretam essas regras, tomam decisões e agem.
O que é a gestão democrática de uma escola?
O Brasil ainda vive um ranço dos governos militares, e, certamente, isso se refletiu em diversas instâncias, como a escola. A gestão democrática consiste em passos horizontais de participação. Não são só os sujeitos tradicionais que fazem parte desse processo. A escola é uma referência territorial. Campanhas de vacinação são nas escolas; votamos lá nas eleições. A escola faz ponte com outros espaços e outros sujeitos. Então, a ideia da gestão democrática não se limita à comunidade interna; a comunidade externa participa desse processo de formação. É comum vermos projetos pedagógicos desatualizados e que ninguém nunca leu, ou debateu. Da perspectiva da gestão democrática, deveria ser um documento vivo, capaz de refletir a dinâmica daquela escola.
E como deve ser um projeto pedagógico contemporâneo?
Ele é como a Constituição de uma escola. Deve dizer quando ela foi criada, que relação tem com a localidade, qual a sua concepção de educação, quais as estratégias avaliativas, os projetos e as ações que desenvolve para alcançar essas finalidades. Indicar recursos e infraestruturas de que dispõe, regras de disciplina e de escolha de diretores. Deve ter finalidade pedagógica. Mas escolas são espaços políticos. Vimos a experiência em São Paulo, onde, de repente, os alunos foram surpreendidos com a informação de que as escolas seriam fechadas e eles teriam que ser remanejados. Como assim? A escola não é somente um conjunto de paredes, janelas e portas. É um espaço em que as pessoas passam horas, constroem afetos e relações de proximidade. Interromper isso, assim, é complicado.
O que pensa da proposta da “Escola sem partido”?
O processo de formação pressupõe a não neutralidade do professor que se dirige ao aluno e do aluno processando a informação. O que está por trás disso é a pseudoideia de uma ideologização, no sentido de uma discussão partidária. Isso parece uma estratégia conservadora de tutelar aquilo que é cláusula pétrea e finalidade da escola, a crítica, a autonomia. De professores e alunos. A escola serve para isso, muito mais do que questões curriculares. É para que o sujeito cresça e seja capaz de tomar decisões com consciência e criticidade. E resolver isso com lei é andar para trás.
A educação tradicional vai na direção contrária à gestão democrática?
Trabalhar o diálogo entre as áreas, ser menos refém de um livro didático e usar outros recursos esbarram na formação do professor. No Brasil, ainda é um desafio. Colegas professores ainda não conhecem editores de texto, nunca ouviram falar do YouTube nem do Skype.
Fonte: O Globo de 19/08/2016
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