Daqui até o fim dos jogos,
centenas de jovens subirão nos pódios, baixarão a cabeça e receberão as
medalhas de ouro das Olimpíadas do Rio. Serão momentos de sonho, felicidade e
alegria. Da alegria dos jovens que sorriam para o mundo durante o desfile dos
atletas na festa da abertura. Nada reduzirá a beleza dessas cenas. Para os
brasileiros, ficarão os momentos de sonho e a conta. Alguém ainda fará o
cálculo da fatura dos custos diretos e indiretos transferidos à Viúva. Chutando
para cima, poderá chegar a R$ 500 milhões.
O Maracanã, joia da privataria
do governo do Rio e da Odebrecht, tornou-se um magnífico elefante branco,
incomparável em noites de festa. A manutenção das instalações olímpicas custará
R$ 59 milhões anuais num estado cuja rede de saúde pública entrou em colapso. A
máquina de marquetagem que prometeu Olimpíadas sem dinheiro público voava nas
asas dos jatinhos de Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, candidato ao
pódio mundial. Era o tempo em que os governantes torravam o dinheiro achando
que o pré-sal cobriria qualquer projeto.
Nos dias em que os problemas da
vila olímpica dominaram o noticiário foi frequente o argumento de que os
críticos da festa carregavam o eterno “complexo de vira-lata”. Criação de
Nelson Rodrigues, ele refletia “a inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo”. Bola dentro, mas às vezes a
questão é mais complicada. Há cães de raça, mas há também adoráveis vira-latas.
A sorte, essa trapaceira, fez
com que o repórter José Maria Tomazela mostrasse uma nova dimensão da
problemática canina. Ele expôs a ação de uma quadrilha de Sorocaba (SP) que
mutilava e pintava filhotes de vira-latas, transformando-os em chihuahuas, e
pinschers. Vendiam chihuahuas por R$ 300.
Viu-se assim outro ângulo da
questão: há gente que vende chihuahuas e entrega vira-latas maquiados a pessoas
que resolveram acreditar neles.
Fonte: O Globo de 07/08/2016
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