Por CID BENJAMIN
Estado
deixou de arrecadar R$ 185 bilhões com ICMS, por conta de isenções a grandes
empresas
O Estado do Rio está quebrado. A
afirmação não é nova. O próprio governador decretou calamidade pública. Mas o
Rio não quebrou por algum desastre natural. Quebrou por práticas indefensáveis
e inaceitáveis de seus governantes. Cabral, Pezão e, agora, Dornelles culpam a
queda do preço do petróleo, e a consequente diminuição das receitas dos
royalties, pela situação. É meia verdade. E, como muitas meias verdades,
esconde uma enorme mentira.
Vamos deixar de lado as
denúncias das comissões que teriam sido recebidas por autoridades, encarecendo
as obras públicas. Afinal, são feitas por empresários confessadamente corruptos
que tentam diminuir as penas com “delações premiadas”. É preciso esperar pela
manifestação final do Judiciário.
Para explicar a falência do estado,
e sem acusar quem quer que seja de corrupção, vamos nos ater ao que está
documentado: os favores a grandes empresas e a farra das isenções fiscais.Antes
de tratarmos das concessões mais volumosas, vale a pena fazer registros que são
pitorescos. Dentre as empresas agraciadas com isenções fiscais, uma é a Termas
Solarium. Outra, os cabeleireiros Werner. Uma terceira, as joalherias H. Stern.
Fica a dúvida sobre os critérios para as isenções.
Outro fato inusitado: em
dezembro de 2015, tomando uma decisão a que não estava obrigado, Pezão resolveu
pagar a conta de luz da subsidiária da Odebrecht que opera os trens da
SuperVia, no valor de R$ 38 milhões. A justificativa? As tarifas de energia
subiram mais do que o previsto e, por isso, a margem de lucro da empresa foi
menor do que o esperado. Ora, as tarifas subiram para todos os consumidores.
Por que o presente de Natal para a Odebrecht?
Mas — é forçoso reconhecer —
embora isso tudo seja grotesco, não foi o que quebrou o estado.
Vamos, então, ao cerne da
questão, com números do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Entre 2005 e 2015,
o governo arrecadou R$ 236 bilhões com o ICMS — a sua segunda fonte de receita,
logo depois dos royalties do petróleo. Mas — pasmem! — deixou de arrecadar R$
185 bilhões com o mesmo imposto, por conta de isenções a grandes empresas. É
estarrecedor.
Para cada real que arrecadou de
ICMS, o estado isentou R$ 0,78.
Mesmo em 2015, já em declarado
estado de crise, com os salários de servidores em atraso, hospitais fechados e
a Uerj inviabilizada, foram mais de R$ 36 bilhões em renúncia do ICMS. Esse
valor é superior ao que foi arrecadado com o imposto (R$ 35 bilhões). Como isso
se explica?
Até mesmo as empresas que estão
na dívida ativa do estado, que hoje alcança R$ 66 bilhões, foram agraciadas com
favores no ICMS. Das 11 maiores devedoras, seis receberam isenções, duas têm
sedes fantasmas e três faliram. Sabendo-se disso, fica claro por que o estado
está quebrado.
É preciso que a população tenha
ciência desse quadro para que possa avaliar as gestões do PMDB. E para que
possa cobrar, não só daquele partido, mas de outros — como PT e PCdoB — que lhe
deram sustentação ao longo desse tempo.
Fonte: O Globo de 04/08/2016
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