REUTERS/GARY CAMERON
Sobrevivente de Auschwitz, Elie Wiesel foi escritor, professor universitário e ativista, reconhecido como a mais eloquente voz em defesa da memória dos cerca de 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial. Suas lembranças do Holocausto foram imortalizadas em dezenas de obras. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1986 por sua militância na defesa de minorias e contra a intolerância.
Marcado pelo sofrimento dos campos de concentração, Wiesel dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos, para manter a memória do Holocausto pela educação e defender o Estado de Israel. Entre as causas que apoiou estão a defesa dos judeus perseguidos na antiga União Soviética, a dos desaparecidos da ditadura argentina, a dos refugiados do Camboja e a luta contra o apartheid na África do Sul.
Nascido em 30 de setembro de 1928, na cidade romena Sighet, atual Sighetu Marmatiei, Wiesel teve sua vida mudada por completo em 1940, quando sua cidade natal foi anexada pela Hungria e todos os moradores judeus foram forçados a viver em guetos. Quatro anos depois, os nazistas deportaram a comunidade judaica de Sighet para o campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Ainda adolescente, Wiesel foi mandado com seu pai, Shlomo Wiesel, ao campo de trabalhos forçados Buna Werke.
Perto do fim da guerra, Wiesel e seu pai foram forçados a marchar para o campo de concentração Buchenwald, na Alemanha, mas Shlomo foi agredido por um soldado e não sobreviveu. A mãe de Wiesel, Sarah, e a irmã mais nova, Tzipora, também morreram. Após ser libertado, Wiesel foi em um trem de órfãos para a França, onde conseguiu se reunir com duas irmãs mais velhas. Essas e outras histórias foram recontadas no best-seller “Noite”, publicado em 1958.
Foi com essa obra que Wiesel começou a mostrar ao mundo os horrores cometidos pelos nazistas. Após o fim da Segunda Guerra, quase nenhuma voz se pronunciava sobre o massacre de judeus. Sobreviventes traumatizados se sentiame culpados por não terem conseguido salvar seus pares, e se mantinham em silêncio. Mas Wiesel, que chegou a Auschwitz aos 15 anos e foi libertado aos 16, com o código A-7713 tatuado em seu braço, gradualmente exumou o Holocausto para os livros de História.
‘MENSAGEIRO PARA HUMANIDADE’
“Wiesel é um mensageiro para a Humanidade”, diz a citação do Nobel a ele concedido. “Sua mensagem é de paz, reconciliação e dignidade humana. Sua crença de que as forças que lutam contra o mal no mundo podem ser vitoriosas foi duramente conquistada”.
— A voz de quem pode falar na primeira pessoa do singular “essa é a minha História, eu estava lá” vai desaparecer quando o último sobrevivente morrer — disse a pesquisadora sobre o Holocausto Deborah Lipstadt, em entrevista ao “Washington Post”. — Mas em Elie Wiesel, nós temos essa voz amplificada e imortalizada.
Wiesel decidiu escrever suas memórias em “Noite” após mais de dez anos de silêncio. Hoje, o livro talvez seja o único na literatura sobre o Holocausto que possa ser comparado em popularidade com “O diário de Anne Frank”. Enquanto o diário termina dias antes de a família de Anne ser presa pelos nazistas, “Noite” leva o leitor para Auschwitz logo nas primeiras páginas.
“Noite” fez parte de uma trilogia, com “Amanhecer” e “Dia”. Além das memórias, Wiesel escreveu romances, ensaios e peças teatrais. Todas as obras são marcadas por questionamentos sobre o Holocausto.
— Se eu sobrevivi, deve ter sido por alguma razão — disse Wiesel, em entrevista ao “New York Times”, em 1981. —Eu preciso fazer algo com a minha vida. É muito sério para continuar brincando, porque no meu lugar, outra pessoa poderia ter sido salva. Dessa forma, eu falo por essa outra pessoa.
O ativista também construiu carreira acadêmica, como professor da Universidade de Boston, onde lecionou por mais de 30 anos.
Wiesel morreu sábado em casa, em Nova York, aos 87 anos. A informação foi divulgada pelo Museu do Holocausto Yad Vashem, em Israel.
FONTE: O GLOBO
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