Com presença de Bush em Dallas, Obama condena racismo e preconceito contra polícia
Por HENRIQUE GOMES BATISTA
Unidos na dor. Presidente Barack Obama (direita) aperta a mão de seu antecessor, George W. Bush, que beija o rosto da primeira-dama, Michelle Obama, durante evento em Dallas
Barack Obama encarou, ontem, um dos maiores desafios que devem marcar os últimos meses de seu mandato: a escalada da violência racial, com impacto na segurança de policiais e no debate sobre o controle de armas. O presidente americano disse em Dallas, Texas, durante o evento em memória dos cinco policiais mortos na semana passada numa emboscada durante uma manifestação contra o racismo da polícia, que o país “não é tão dividido como parece”, mas admitiu que o preconceito sobrevive nos EUA.
Em mais um funeral após uma tragédia — a ponto de começar a ser chamado de “consolador em chefe” pela imprensa, em um jogo de palavras com a posição de comandante em chefe das Forças Armadas do morador da Casa Branca — o presidente mostrou-se mais cauteloso que em outros discursos, tentando reduzir o radicalismo que há no país. Em tom emocionado e acompanhado do ex-presidente George W. Bush, Obama pediu a reflexão de todos os americanos, dizendo que “nenhum de nós é totalmente inocente. Nenhuma instituição está totalmente imune, e isso inclui os departamentos de polícia”.
— Eu não sou ingênuo. Tenho falado em muitos funerais durante a minha gestão. Eu abracei muitas famílias que perderam um ente querido para a violência sem sentido — disse ele, que se reuniu com parentes das vítimas nesta viagem e que, no discurso, citou um trecho da Bíblia: — Lembro de uma passagem no Evangelho de João. “Amemos não com palavras ou paz, mas com ações e verdade.”
DISCURSO EQUILIBRADO
O presidente também lamentou as mortes de Alton Sterling e Philando Castile, os homens negros mortos por policiais brancos sem necessidade aparente na semana passada na Louisiana e em Minnesota. Foi a divulgação de vídeos dos incidentes com imagens das duas mortes que reacendeu a onda de protestos por todo o país. No avião a caminho do Texas, Obama telefonou para os familiares dos dois. A violência da semana passada fez o presidente encurtar a viagem que fazia à Espanha no fim de semana. Ele também comentou os protestos em seguida espalhados pelos EUA.
— Outra comunidade partida ao meio, mais corações partidos, mais perguntas sobre o que pode prevenir outra tragédia como esta — declarou o presidente, que se reuniu por mais de uma hora com os familiares das vítimas de Dallas e citou todos nominalmente em seu discurso. — Não podemos descartar quem está nos protestos como arruaceiros ou paranoicos. Ter sua experiência negada desta forma é uma ferida, podemos ver isso.
Em busca de equilíbrio, Obama foi mesclando momentos em que condenava o racismo da sociedade americana com críticas ao movimento crescente contra policiais brancos, principais alvos do atirador de quinta-feira passada no Texas. Diferentemente do que ocorreu em outros funerais após tragédias que mobilizaram os Estados Unidos — como o massacre da boate gay Pulse na Flórida há um mês, quando foram registrados 49 mortos — Obama falou menos sobre o controle de armas, algo que divide o Congresso americano.
— Sabemos que a esmagadora maioria dos policiais faz um trabalho incrivelmente difícil e perigoso equitativa e profissionalmente. Eles são merecedores de nosso respeito, e não do nosso desprezo — afirmou o presidente. — Quando alguém pensa que todos os policiais são tendenciosos ou intolerantes, minam essas pessoas que estão agindo para nossa segurança. Exigimos da polícia muita coisa, mas exigimos muito pouco de nós mesmos.
Obama reconheceu que os assassinatos na semana passada são não apenas um ato de “violência demente”, mas de “ódio racial” e que estes episódios expõem “uma falha na democracia americana”:
— Nós nos perguntamos se as divisões podem ser superadas. Estou aqui para dizer que devemos rejeitar tal desespero. Eu estou aqui para insistir que não estamos tão divididos como parece — disse. — Sabemos que nos Estados Unidos o preconceito continua. Seja você negro ou branco, todos nós já vimos intolerância em nossa vida, em algum momento.
BUSH PEDE ‘RENOVAÇÃO DA UNIDADE’
O presidente aproveitou que estavam presentes o prefeito de Dallas, Mike Rawlings, branco, e o chefe da polícia da cidade, o negro David Brown, para mostrar como as diferenças raciais devem ser deixadas de lado, e agradeceu o trabalho conjunto dos dois após a tragédia.
— O Departamento de Polícia de Dallas está na vanguarda na melhoria das relações entre a polícia e a comunidade. Este é o país que eu conheço — disse ele, recebendo longos aplausos.
De mãos dadas, o ex-presidente George W. Bush e sua mulher, Laura, deram as mãos ao atual casal presidencial. Em seu discurso antes de Obama, Bush também defendeu a superação e mais tolerância:
— Muitas vezes nós julgamos outros grupos por seus piores exemplos, enquanto nos julgamos por nossas melhores intenções, mas acredito que temos que renovar a nossa unidade e lembrar de nossos valores, de nossos compromissos partilhados em ideais comuns — disse o ex-presidente.
— Não queremos a unidade apenas na dor, queremos a unidade da esperança e de objetivos elevados da nação.
Enquanto estava no Texas, contudo, os riscos da violência armada continuavam no país. O Capitólio dos Estados Unidos, sede do Legislativo americano, foi brevemente fechado por uma ameaça de segurança, segundo autoridades. Após receber uma notícia sobre um homem armado perto do local, a polícia prendeu duas pessoas e encontrou uma arma. Policiais saíram acompanhados de cães, à procura de um suspeito supostamente munido de uma arma, mas nada encontraram.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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