segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Forças da Otan para esmagar o Estado Islâmico

Por ROGER COHEN


A chacina em Paris reivindicada pelo Estado Islâmico ( EI) constitui, como o presidente François Hollande, da França, declarou, um “ato de guerra”. Como tal, exige de todos os Estados- membros da Otan uma resposta coletiva sob o artigo 5 º do Tratado do Atlântico Norte. Que diz: “Um ataque armado contra um ou mais na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque contra todos.”

Os líderes da aliança já estão debatendo esta resposta. Hollande falou com o presidente Obama. Outros países da Otan, incluindo Alemanha e Canadá, manifestaram solidariedade. Indignação e revolta, apesar de justificadas, não são suficientes.

A única medida adequada, após a morte de pelo menos 129 pessoas em Paris, é militar, e o único objetivo comensurável sob esta ameaça contínua é o esmagamento do EI e a eliminação do seu reduto na Síria e no Iraque. Aos terroristas bárbaros, exultantes em mídias sociais pelo sangue que derramaram, não pode ser mais permitido controlar um território no qual eles são capazes de organizar, financiar, direcionar e planejar sua selvageria.

Foi errado relegar o EI a uma ameaça regional. A ameaça é global. E deve parar. Ao mal não pode ser permitido terreno físico para procriar. O Papa Francisco declarou os ataques de Paris “não humanos”. Em certo sentido, está certo. Mas a História ensina que os seres humanos são capazes do mal abissal. Não alcançado, ele cresce.

Derrotar o EI na Síria e no Iraque exigirá forças da Otan no terreno. Após as prolongadas e inconclusivas intervenções ocidentais no Iraque e no Afeganistão, é razoável perguntar se isso não seria uma insensatez. Também é razoável questionar — e muitos irão — se a ação militar não terá apenas o efeito de levar mais recrutas ao EI, enquanto mais vidas e recursos são desperdiçados. O terrorismo, a velha fórmula apregoa, nunca será completamente derrotado. Tais argumentos são sedutores, mas se deve resistir. Uma guerra aérea contra o EI não vai cumprir a tarefa. As grandes potências, incluindo Rússia e China, têm vigorosamente condenado os atentados. E não devem se opor a uma resolução da ONU que autorize uma ação militar para eliminar o EI na Síria e no Iraque. Potências regionais, especialmente a Arábia Saudita, têm interesse em derrotar o monstro que ajudaram a criar, cujo Califado, imaginam, iria destruí- los.

Não basta dizer, como o governo Obama tem feito, que o EI será derrotado. Palavras não têm significado sem um plano correspondente. Há pressão do tempo, pois o tempo está sendo usado precisamente para planejar novas atrocidades.

A possibilidade de uma espiral de violência religiosa e sectária na Europa aumenta. O ódio aos muçulmanos parece crescer. O Bataclan, o clube alvejado nos ataques de Paris, tem sido, como a revista francesa “Le Point” assinalou, um espaço frequente de encontros de organizações judaicas.

As mortes ocorrem no momento em que milhares de desesperados refugiados muçulmanos da Síria correm para a Europa. E não é o momento de virar- se contra eles, mas de ajudá- los, mesmo se preciso extrema vigilância. Eles, também, em sua imensa maioria, estão fugindo do EI, bem como da violência indiscriminada do presidente Bashar al- Assad. A não intervenção na Síria tem- se revelado uma política carregada de derramamento de sangue e perigosa, que agora penetra na Europa.

A batalha será longa. O Islã se vê numa crise ardente, dilacerado pela batalha regional entre sunitas e xiitas ( leia- se Arábia Saudita e Irã), afligido por uma ideologia de ódio antiocidental e fundamentalismo wahhabi ( movimento ultraortodoxo sunita) que se espalha como uma metástase, buscando acomodação razoável dentro da modernidade. Este flagelo só pode provavelmente ser derrotado internamente, pelas centenas de milhões de muçulmanos que são pessoas de paz, e que estão tão chocadas como qualquer ser senciente sobre a chacina de Paris. Suas vozes precisam se levantar em contínuo uníssono, sem ambiguidades.

Esmagar o EI na Síria e no Iraque não eliminará o terrorismo jihadista. Mas o perfeito não pode ser inimigo do bom. Passividade é receita para o fracasso. É tempo, em nome da Humanidade, de agir com convicção e poder contra o flagelo do Estado Islâmico. Desunião e distração minaram esforços militares passados para derrotar os jihadistas. Unidade, agora, é possível e, com ela, a vitória.

Fonte: O Globo

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