quarta-feira, 25 de novembro de 2015

EM ROTA DE COLISÂO


Derrubada de avião russo pela Turquia abre crise e dificulta entendimento sobre a Síria


HENRIQUE GOMES BATISTA Correspondente








WASHINGTON- “Uma punhalada nas costas que terá consequências graves”. Com essas palavras, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou a derrubada de um avião militar do seu país por caças turcos na fronteira da Turquia com a Síria, ontem, na primeira vez em que uma aeronave russa foi abatida por um país-membro da Otan desde a Guerra da Coreia, nos anos 1950. O incidente aumentou as tensões entre as duas nações — já altas desde o início da intervenção russa na Síria, em setembro — e também entre o Kremlin e a Aliança Atlântica. Otan e Moscou se estranham desde 2014 após a anexação da Península da Crimeia pela Rússia, acusada também de intervir na revolta separatista no Leste da Ucrânia. A derrubada do avião gerou troca de acusações entre Moscou e Ancara, dificultando as chances de uma resolução diplomática para o conflito sírio, atualmente em seu quinto ano.

Imagens do bombardeiro Sukhoi Su-24 em chamas foram exibidas pela TV turca, enquanto o governo afirmava que o avião fora derrubado depois de violar o espaço aéreo da Turquia, mesmo após ser alertado pelas autoridades. Segundo o governo turco, foram dez alertas em cinco minutos, antes que o avião fosse atingido.

— Nunca toleraremos crimes como os que foram cometidos hoje (ontem) — reagiu Putin, que atribuiu a derrubada do avião a “cúmplices do terrorismo”. — Isso foi além da luta normal contra os terroristas. Nossos pilotos e nosso avião não ameaçaram a Turquia em momento algum, e isto está claro.

Na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou que a derrubada do avião estava de acordo com as regras adotadas em 2012, depois que um caça turco foi derrubado na Síria, e alertou que “todos deveriam respeitar o direito da Turquia de defender suas fronteiras”.

— A razão pela qual incidentes piores não aconteceram no passado é o temperamento calmo da Turquia — declarou o presidente, ao alegar que não fora a primeira violação do espaço aéreo turco por aeronaves da Rússia.

O Conselho do Atlântico Norte, órgão político da Otan, discutiu a crise numa reunião extraordinária. Após o encontro, o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, afirmou que buscará aprofundar o diálogo entre Moscou e Ancara, e pediu a ambos os lados que evitassem uma escalada das tensões.

Horas após a queda do avião, o tenente-general Sergei Rudskoy, porta-voz das Forças Armadas russas, afirmou que os pilotos conseguiram ejetar-se, mas um deles morreu fuzilado ainda no ar, por rebeldes em terra, quando desciam de paraquedas. O paradeiro do segundo piloto é desconhecido. Um helicóptero militar enviado para o resgate foi atingido por foguetes, e fez um pouso de segurança próximo à fronteira. Um fuzileiro morreu no ataque.

OBAMA PEDE ‘PAPEL CONSTRUTIVO’ AO KREMLIN

Na Casa Branca, os presidentes François Hollande, da França, e Barack Obama, dos EUA, anunciaram ontem que vão trabalhar juntos contra o Estado Islâmico (EI), pedindo ainda mais atuação da União Europeia contra o grupo. Em entrevista coletiva, não anunciaram medidas concretas, mas pediram uma mudança de postura da Rússia. Obama afirmou que Moscou não deve aumentar a tensão na região, e que a Rússia precisa fazer “uma mudança” em sua estratégia na Síria, para atacar apenas o EI e evitar a perseguição da “oposição moderada” ao ditador Bashar al-Assad.

— A Rússia pode desempenhar um papel mais construtivo, deslocando o foco de seus ataques aéreos para derrotar o EI — disse Obama. — Nós temos uma coalizão de 65 países. A França tem sido uma parte central da ofensiva. A Rússia é uma coalizão de dois: o Irã e a Rússia apoiam Assad. Dadas as capacidades militares e a influência que eles têm sobre o regime, a Rússia seria extremamente útil se colaborasse na solução política da guerra civil e permitisse a todos nós nos concentrarmos contra o EI.

Os dois presidentes descartaram o envio de tropas, mas disseram que a coalizão já realizou mais de oito mil ataques aéreos a alvos dos extremistas. Eles também defenderam um apoio maior à Turquia, inclusive para receber milhares de refugiados que cruzam seu território para chegar à Europa.

— O EI é uma ameaça séria para todos nós, e devemos destruí-lo juntos. Esse grupo terrorista bárbaro e sua ideologia assassina não podem ser tolerados e devem ser destruídos — pregou Obama, que defendeu, ainda, a versão de Ancara no incidente de ontem com a Rússia e ressaltou o direito da Turquia de defender seu território.

O presidente francês defendeu ações conjuntas contra o EI, lembrando que a organização terrorista ainda tem muita força. Ele disse que também não quer misturar o debate entre refugiados e terroristas. Hollande está encontrando líderes mundiais para tentar unificar forças que atuam na Síria. Na segunda-feira, ele esteve com o premier britânico, David Cameron, e terá reuniões nesta semana com a chanceler alemã, Angela Merkel e Putin.


Fonte: O GLOBO


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