"Peter Demant
afirma que a palavra de Deus, no Cristianismo e no judaísmo, “não é mais lida
literalmente, mas simbolicamente” e que “eventualmente tal solução acomodará
também a maioria muçulmana” (“Islã e Democracia”, Tendências/Debates,23/11).
Gostaria que a afirmação estivesse correta. No entanto, há mais de 13 séculos
que o mundo está à espera de tal reforma do islã, que até agora não aconteceu.
O otimismo de Demant, então, não tem nenhum fundamento histórico, e muito
sangue—inclusive e especialmente muçulmano— ainda será derramado em nome da
mais nova religião monoteísta que continua com a sua leitura literal do
Alcorão."
Markus Michael
(
São Paulo, SP)
O excerto acima
extrai da sessão "Painel do Leitor" do jornal Folha de São Paulo.
Nele, o leitor contesta o artigo de Peter Demant, que afirma que o Islamismo
precisa passar por uma espécie de "Renascimento" para deixar de
acomodar atitudes radicais e extremadas de intolerância que conduzem à práticas
de terror como as perpetradas recentemente em Paris e no Mali. O autor do
artigo afirma que a leitura dos textos sagrados, tanto no Cristianismo quanto
no Judaísmo, deixou de ser literal e é realizada de maneira simbólica por estas
religiões. Segundo o autor, o Islã deveria adotar a mesma forma de
interpretação, o que levaria a uma mudança comportamental e atitudinal de todos
os participantes ou seguidores deste ismo.
Tal opinião em
relação ao Islamismo e, no que diz respeito a sua tradição, ao me ver, parece
utópica. O radicalismo maometano jamais poderá ser "domesticado" e,
tampouco, os versos do Corão tratados como alegorias inócuas pelos que nele
creem. Como bem disse o leitor, treze séculos de história se passaram e não
houve mudança alguma na forma como o mundo muçulmano interpreta as suas
escrituras corânicas. O radicalismo vai continuar e o fanatismo extremado
também, porque os seguidores de Mohamed levam o corão ao pé da letra e isso não
tem volta, tampouco haverá uma Reforma ou Renascimento deste povo em relação ao
seu livro.
Outro aspecto que
cabe ser ressaltado aqui é que a maioria dos cristãos (quando digo
cristãos, refiro-me aos que de fato
creem na Bíblia como infalível e inerrante Palavra Deus) não interpretam as Escrituras de forma
simbólica, como declara Peter Demant. Eles creem e interpretam-na literalmente.
Esse pensamento que atribui aspectos simbólicos, alegóricos ou mesmo
mitológicos ao texto sagrado cheira a revisionismo racionalista e à influência
da Alta Crítica, que ataca a inspiração das Escrituras desconsiderando a sua
inerrância e inspiração. Rudolf Bultman, um dos proponentes desta escola,
afirmava que os Evangelhos estavam eivados de mitos e imprecisões e, portanto,
não deveriam ser considerados infalíveis. Essa é uma característica do
revisionismo relativizado que adentrou às igrejas e institutos teológicos e
precipitou toda uma geração ao caos e à alienação no tocante a fé e aos valores
cristãos.
Na França, onde o secularismo tomou contornos de religião, o
ceticismo e a relativização do sagrado avançam a passos bem largos. A
intolerância à fé cristã se tornou o ponto alto desta sociedade, que toma como
obsoletos a moral cristã e descambam para toda sorte de absurdidades e
abominações. Ao passo que rejeitam a fé ancestral e a mitologizam, abrem-se para
o multiculturalismo e para uma cultura hedonística cujo alvo é apenas
satisfação mundana. Os frutos amargos estão sendo colhidos, que busquem consolo
nos altares do Racionalismo.
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