segunda-feira, 30 de novembro de 2015

LARGADA SOB PRESSÃO



Antes mesmo do início da conferência em Paris, ONU afirma que metas devem ser revistas


POR VIVIAN OSWALD




A chamada foto de família que será feita hoje na capital francesa pouco antes da abertura oficial da COP-21 dá a dimensão do que está em jogo nas próximas duas semanas. Os 150 chefes de Estado e de governo presentes ali fazem desta a maior Conferência do Clima de todos os tempos. Deles dependerá o que pode ser um acordo global histórico ou um imenso fracasso. Sobre a mesa, os 195 países representados na cúpula terão o desafio de ir além das propostas voluntárias que já apresentaram para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Pouco depois da abertura simbólica dos trabalhos das delegações ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que, juntas, elas não são suficientes para evitar o aquecimento global em até 2 graus Celsius em relação à era pré-industrial. E já propôs uma revisão dos números antes de 2020:

— Não é suficiente. Temos de fazer mais e depressa para conseguirmos conter o aquecimento global abaixo de 2° C.

Pela primeira vez, as autoridades máximas das nações se reúnem no início da conferência, ideia da França, que preside o encontro, com o objetivo de azeitar o diálogo. Resta saber em que medida isso aumentará o poder dos negociadores para obter um acordo mais audacioso, como quer Ban Ki-moon.

BRASIL DEFENDERÁ MAIS RECURSOS

Conhecida como a “ministra do Futuro” da Suécia, a chefe da pasta de Desenvolvimento Estratégico daquele país, Cristina Persson, reforça a cobrança do secretário-geral da ONU. Em entrevista ao GLOBO, Cristina ressalta que, mesmo que as nações cumpram as promessas anunciadas em seus planos de ação, não será suficiente para restringir o aumento da temperatura a 2 graus Celsius. Como representantes de outros países europeus, ela defende compromissos obrigatórios e mecanismos que promovam a transparência e permitam monitorar a evolução do cumprimento das metas, de preferência a cada cinco anos.

— Existe um grande “se” aí. Se eles cumprirem, ainda assim não vai ser suficiente. Somados, os planos de ação ainda gerariam um aquecimento de 2,7 graus Celsius — afirmou.

Ao pedir audácia, a ministra mostrará aos presentes que a Suécia deve ser um dos primeiros países do mundo cujo sistema de transportes estará livre de combustíveis fósseis até 2030. O país estuda reduzir tributos para os automóveis elétricos e híbridos e cobrar impostos mais altos daqueles que insistirem nos combustíveis fósseis. Durante o encontro, vários países devem tentar martelar a ideia de que cortar as emissões é um bom negócio.

Durante os próximos dias, os países também vão buscar fontes de financiamento para os novos projetos e compromissos legais, visando evitar o que aconteceu após o Protocolo de Kioto.

O Brasil defenderá mais recursos do que os US$ 100 bilhões já prometidos e a obrigatoriedade das metas. A aposta do país é que as consultas informais, que já começaram, acelerem as negociações. Para a vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a pesquisadora brasileira Thelma Krug, a entrega dos planos de ação antes da cúpula pode ser um prenúncio de um acordo:

— Existe um engajamento agora que não havia na Conferência de Copenhague e uma percepção da urgência. É isso que me deixa otimista.

A preocupação dos líderes é mostrar unidade entre as nações, solidariedade e destemor, logo depois dos atentados terroristas que três semanas atrás mataram 139 pessoas em Paris e chocaram o mundo. No entanto, por maiores que sejam os esforços da organização francesa e dos 40 mil participantes da COP-21, não há como negar que o assunto terrorismo já mudou, ainda que parcialmente, a cara e a agenda do encontro. Ontem, a sessão simbólica começou com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos ataques do último dia 13.

Ontem, dezenas de viaturas policiais e milhares de soldados fortemente armados estavam plantados em esquinas estratégicas ou em cartões-postais da capital francesa. Quarteirões inteiros foram fechados, assim como as principais vias de acesso à cidade. À tarde, cerca de duas centenas de manifestantes lutaram com a polícia em uma das ruas que levam à Praça da República, onde, a despeito das proibições de protestos e aglomerações, milhares se reuniram para formar uma corrente humana em uma avenida próxima. Os manifestantes carregavam cartazes pedindo a defesa do clima e da democracia. No lugar das pessoas, proibidas de se aglomerar, eles deixaram pares de sapatos em uma instalação que ocupou quase toda a praça. Depois dos confrontos, cerca de cem manifestantes contrários à COP-21 foram presos. Ao todo, 200 foram detidos no país.

Na Rue du Faubourg Saint-Honoré, onde estão hospedados a presidente Dilma Rousseff e outros chefes de Estado, há mais de 50 policiais fazendo a segurança do entorno. Dilma almoçou e jantou no hotel, onde se reuniu com a primeira ministra da Noruega, Erna Solberg, e o presidente da Bolívia, Evo Morales.


Fonte: O Globo

Um comentário:

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