quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A VIDA SOB BOMBAS DO EI

Raqqa sofre com opressão de jihadistas e ataques aéreos

Por NATALIA SANCHA Do “El País” -BEIRUTE-


Em junho de 2014, ninguém pensava que o líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, escolheria Raqqa como capital de seu reino particular de terror. Primeiro, fecharam os locais onde eram vendidos álcool e tabaco. Depois estabeleceram as orações obrigatórias e, mais tarde, o visual oficial: véus para as mulheres, barbas para os homens.

— Deixamos de ser um rabisco no mapa para nos tornarmos a Nova York síria — conta Abu Ahmed, coordenador do grupo Raqqa Está Sendo Massacrada Silenciosamente (Raqqa SL), destacando a enxurrada de estrangeiros que chegaram à cidade.

O EI implanta sua sociedade sonhada por meio de tribunais islâmicos que impõem suas leis com chibatadas, decapitações ou apedrejamentos de homossexuais e adúlteros. As rotatórias da cidade se transformaram em matadouros de castigos exemplares.

— A hisbah (polícia islâmica) criou até mesmo um órgão específico para policiar as mulheres — conta Mahmoud, médico de Raqqa que hoje vive refugiado na Noruega.

Via Skype, Abu Ahmed conta que o controle do EI impede as pessoas de deixarem a cidade. Na última quarta-feira, após a intensificação dos bombardeios em represália aos atentados de Paris, os extremistas fecharam todos os cafés com acesso à internet. Cerca de meio milhão de habitantes da cidade síria estão desconectados do resto do mundo.

— Os jihadistas vivem entre a população local, mas são os civis que morrem pelas bombas — lamenta Mahmoud.

Enquanto milhares de jovens fogem para a Europa a fim de evitar o serviço militar nas zonas leais a Bashar al-Assad, outros integram a campanha de recrutamento do EI. Milhares de jihadistas estrangeiros fazem o caminho até o califado. E entre os vizinhos que ficam, nem todos discordam de sua nova vida.

— Fugir do califado custa quase € 200 por pessoa, o que deixa os mais pobres sem escapatória — afirma Bilal, um mecânico de Deir ez-Zor refugiado na Turquia. — Vive-se melhor nas zonas do EI do que nos bairros controlados por Assad, onde se morre de fome.



Fonte: O Globo 

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