Raqqa sofre com opressão de jihadistas e ataques aéreos
Por NATALIA SANCHA Do “El País” -BEIRUTE-
Em junho de 2014, ninguém pensava que o líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, escolheria Raqqa como capital de seu reino particular de terror. Primeiro, fecharam os locais onde eram vendidos álcool e tabaco. Depois estabeleceram as orações obrigatórias e, mais tarde, o visual oficial: véus para as mulheres, barbas para os homens.
— Deixamos de ser um rabisco no mapa para nos tornarmos a Nova York síria — conta Abu Ahmed, coordenador do grupo Raqqa Está Sendo Massacrada Silenciosamente (Raqqa SL), destacando a enxurrada de estrangeiros que chegaram à cidade.
O EI implanta sua sociedade sonhada por meio de tribunais islâmicos que impõem suas leis com chibatadas, decapitações ou apedrejamentos de homossexuais e adúlteros. As rotatórias da cidade se transformaram em matadouros de castigos exemplares.
— A hisbah (polícia islâmica) criou até mesmo um órgão específico para policiar as mulheres — conta Mahmoud, médico de Raqqa que hoje vive refugiado na Noruega.
Via Skype, Abu Ahmed conta que o controle do EI impede as pessoas de deixarem a cidade. Na última quarta-feira, após a intensificação dos bombardeios em represália aos atentados de Paris, os extremistas fecharam todos os cafés com acesso à internet. Cerca de meio milhão de habitantes da cidade síria estão desconectados do resto do mundo.
— Os jihadistas vivem entre a população local, mas são os civis que morrem pelas bombas — lamenta Mahmoud.
Enquanto milhares de jovens fogem para a Europa a fim de evitar o serviço militar nas zonas leais a Bashar al-Assad, outros integram a campanha de recrutamento do EI. Milhares de jihadistas estrangeiros fazem o caminho até o califado. E entre os vizinhos que ficam, nem todos discordam de sua nova vida.
— Fugir do califado custa quase € 200 por pessoa, o que deixa os mais pobres sem escapatória — afirma Bilal, um mecânico de Deir ez-Zor refugiado na Turquia. — Vive-se melhor nas zonas do EI do que nos bairros controlados por Assad, onde se morre de fome.
Fonte: O Globo
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