Por Fernanda Krakovics, Júnia Gama Maria Lima
-RIO
E BRASÍLIA -Depois do desembarque da oposição, da perda de apoio entre aliados
e do desconforto no PMDB, cresce a insatisfação na bancada do PT com a política
de boa vizinhança mantida pelo Palácio do Planalto e pela direção petista com o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O ministro Jaques Wagner (Casa
Civil) convocou uma reunião com deputados do PT descontentes para a noite de
hoje. Já o peemedebista, fiel ao seu estilo de se defender atacando, afirmou
ontem que é “furado” acharem que ele vai cair antes de decidir sobre o pedido
de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o
que promete fazer antes do recesso parlamentar, que começa em 22 de dezembro.
Cunha disse ainda que “não existe qualquer hipótese” de se afastar do cargo.
—
Furado é achar que vou cair. Mais furado ainda é achar que não vou decidir
(sobre o impeachment) — afirmou Eduardo Cunha ao GLOBO, por meio de mensagem de
texto.
Ele
disse que na semana passada arquivou sete outros pedidos e que faltam outros
sete para avaliar, o que pode fazer a qualquer momento:
—
Não sei (se será na próxima semana). Vai ser na medida do meu convencimento.
O
peemedebista ironizou as avaliações segundo as quais ele, isolado, pode cair
antes e dar um refresco para a presidente Dilma.
—
Todos os dias, faz quatro meses, esses mesmos articulistas falam que vou cair e
estou aqui — respondeu.
A
avaliação de governistas é que o clima para o impeachment esfriou e que a
presidente ganha fôlego com o recesso parlamentar. A aposta é que, até
fevereiro, quando o Congresso voltar a funcionar, Cunha já terá sido afastado
do comando da Câmara e substituído por um aliado que enterre de vez a
possibilidade de impeachment. Mas Cunha disse ontem que vai se decidir sobre os
sete pedidos de impeachment ainda pendentes, inclusive o dos juristas Hélio
Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, antes do início do recesso.
Divergindo
da orientação do Planalto e da direção partidária, mais da metade da bancada do
PT quer partir para o enfrentamento com o presidente da Câmara. Dos 60
deputados petistas, 34 assinaram a representação contra Cunha protocolada pelo
PSOL e pela Rede no Conselho de Ética da Casa.
—
Quero que alguém me explique qual é o ganho de manter essa situação — disse um
dos convidados para a conversa com Wagner.
O
Planalto e a direção do PT continuam tentando ganhar tempo, temendo que um
confronto com Cunha prejudique o governo. A preocupação é que o presidente da
Câmara revide com a abertura de um processo de impeachment e que a crise
política prejudique a votação de medidas do ajuste fiscal.
Ao
discursar na abertura da reunião do Diretório Nacional do PT, no último dia 29,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é mais importante aprovar
as matérias de interesse do governo do que “derrubar” o presidente da Câmara.
—
O Eduardo Cunha de fato não deve ser nossa prioridade, assim como também não é
da oposição. A prioridade da oposição é o impeachment. O problema é que a
situação evoluiu para uma conduta tão intolerável que teve até levante no
plenário — disse um deputado do PT, referindo-se à reação, na última
quinta-feira, à manobra de Cunha para obstruir os trabalhos do Conselho de
Ética.
Deputados
do PT reclamam por não terem sido consultados sobre a decisão de ajudar a não
dar quórum para a sessão do Conselho de Ética, na última quinta-feira, embora
sofram o desgaste gerado por essa medida. Segundo petistas, a articulação ficou
restrita à direção do partido; ao líder da bancada, deputado Sibá Machado (PT);
e aos integrantes do colegiado.
Em
diversos setores do PT, há insatisfeitos com a exposição negativa, como o
senador Jorge Viana (PT-AC). E ao menos um dos três deputados petistas no
Conselho de Ética, Léo de Brito (PTAC), não pretende mais faltar às sessões e
garante que votará com “ética” no caso. Ele disse ao GLOBO que ainda não
decidiu como votará no processo, negou ter havido pedido por parte do governo
para que o PT ajude Cunha e afirmou acreditar que o presidente da Câmara não
fará “retaliação política” com o impeachment, se não for salvo pelo PT no
Conselho de Ética.
—
Minha posição é pelo pleno funcionamento da Comissão de Ética — disse outro
petista, o deputado Paulo Teixeira, de São Paulo.
A
situação do peemedebista se agravou consideravelmente na última quinta-feira,
quando manobrou durante horas para impedir que a sessão do Conselho de Ética
analisasse a admissibilidade do processo por quebra de decoro do qual é alvo.
A
reação da oposição foi imediata, com duros discursos e o esvaziamento do
plenário, e será intensificada esta semana, quando partidos oposicionistas
ingressarão no Supremo Tribunal Federal e na Procuradoria-Geral da República
pedindo o afastamento de Cunha da presidência da Casa. Está prevista ainda a
obstrução das votações na Câmara enquanto Cunha continuar na presidência.
Fonte: O Globo
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