Por Geovani F. dos Santos
O apóstolo Paulo em sua primeira
Epístola a Timóteo assevera que: “O amor ao dinheiro é a raiz de toda
espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a
si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.10).
A questão da cobiça e do desejo de lucro mundano está muito presente
neste fragmento de texto. Observe que o apóstolo descreve o amor ao dinheiro e,
não o dinheiro propriamente dito, como a raiz de todos os males. O dinheiro em
si é inofensivo. O que agrava o problema é o que se faz com ele, ou o que se
coloca sobre ele. Jesus deixa isso claro quando diz: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo
consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde
nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro,
aí estará também o vosso coração”
(Mt 6.19-21). Lucas, fazendo menção de uns dos discursos de Jesus ao povo,
narra o episódio em que um homem pede ao Mestre que convença o seu irmão a
repartir com ele uma herança e recebe estas incisivas e penetrantes palavras: “Homem, quem me pôs a mim como juiz ou
repartidor entre vós? E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste
na abundância do que possui” (Lc 12. 14,15).
Pode-se perceber na exortação do
Senhor uma importante advertência a todos aqueles que possuem riquezas ou se
fiam nas mesmas como sua fonte de segurança neste mundo. A vida em si é o maior
tesouro que alguém pode ter e o fato de se estar vivo é uma dádiva, um bem mais
precioso do que qualquer conta bancária ou quantia que possa ser amealhada
nesta existência temporal. Acima, no
texto de Mateus, é feita a menção sobre onde o coração está colocado e, isso,
pode fazer toda a diferença na vida de alguém.
Eis aí a grande lição que o texto encerra, ou seja, o direcionamento que
se faz tendo em vista o bem maior ou a maior riqueza, que não é material, e,
sim, espiritual, é que determinarão o êxito ou fracasso espiritual. Atentar para tais detalhes é imprescindível
para se manter o equilíbrio no uso das finanças, mantendo-as sempre em seu
devido lugar e, não dando à mesma, uma posição que só pertence à
Divindade. A tônica do ensino de Cristo
revoluteia em torno de questões capitais que dizem respeito ao modo como os
homens deste mundo agem, exemplo que não deve ser seguido pelos que desejam
obedecer aos seus ensinos. Jesus não está afirmando que ter posses é errado;
está apenas ensinando que não se pôde fazer delas uma espécie de deus, sendo
subserviente ao seu poder e magnetismo material intrínseco. Arrington (2004, p 403), Declara:
As palavras de Jesus nos
proíbem que entendamos que as bênçãos do Reino sejam um armazenamento de coisas
materiais, pois a sua declaração é esta: “ Vendei o que tendes e dai esmolas”.
O foco aqui não é abandonar posses, mas como as usamos. Jesus não nos ordena literalmente
que vendamos todas as nossas posses terrenas. Isso nos reduziria a pobreza e
nos tornaria dependentes dos outros. Mas o seu interesse é que não nos tornemos
escravos de nossas posses e que as usemos para ajudar os outros. Confiantes no
cuidado de Deus, podemos ser generosos com que Ele nos dá. Se não estamos
presos ao mundo, é fácil nos tornarmos servos do Reino e considerar as
necessidades dos outros.
Como já dissemos é o
fascínio das riquezas e a busca desenfreada pelas mesmas que é condenável pelas
Escrituras. Quando Paulo fala que “o amor
ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (1Tm 6.10), ele usa um provérbio grego para dar ênfase ao caráter nocivo da cobiça e
da avareza na vida dos indivíduos, um fato que se torna ainda mais terrível
quando é encontrado nos cristãos. Segundo Guthrie apud Arrington e Stronstad
2004, p.1481): “A linguagem vívida usada
por ele no original é de um monstro que arrasta as suas vítimas até o fundo,
submergindo-as e afogando-as. As palavras “ruina” e “destruição” sugerem uma
perda irreparável”.
William Barclay, em seu
Comentário do Novo Testamento, também é categórico no uso que se faz do
dinheiro e mostra o mesmo como um caminho de duas vias. Vejamos:
O dinheiro em si mesmo não é nem
bom nem mau; simplesmente é perigoso porque o amor ao mesmo pode ser mau. Com o
dinheiro pode-se fazer muito bem; com ele também pode-se fazer muito mal. Com
dinheiro podem-se satisfazer egoisticamente os próprios desejos; e com ele
pode-se responder generosamente ao clamor do próximo necessitado. Com dinheiro
pode-se comprar o caminho para as coisas proibidas e facilitar o atalho ao mal;
com ele pode ser mais fácil para alguém viver como Deus quer que se viva. O
dinheiro não é mau, mas é uma grande responsabilidade. O dinheiro outorga
poder, e o poder tem um duplo sentido, porque se pode ser poderoso para bem e
para mal.
O uso do dinheiro envolve
um comportamento ético que se não for seguido descamba para a corrupção e por
sua vez à degeneração do caráter do indivíduo. Quando Paulo usa no seu texto a
metáfora de um mostro que arrasta as suas vítimas ao fundo, para destruí-las,
está demonstrando o poder maligno que o dinheiro tem de destroçar a vida dos
homens se não for usado com temperança. Os filósofos gregos tinham conhecimento
destes fatos e em seus escritos não faltaram advertências neste sentido.
Vejamos:
- Demócrito: "O amor ao dinheiro é a metrópole de todos os males".
- Sêneca: "O desejo daquilo que não nos pertence, do qual surge todo o mal da mente".
- Focilides: “O amor ao dinheiro é a mãe de todos os males".
- Filo: “ O amor ao dinheiro que é o ponto de partida da maior transgressão da lei".
- Ateneu: “O prazer do ventre é o começo e a raiz de todo o mal”.
Em uma época em que o “ amor ao dinheiro” é decantado pelas sociedades e até mesmo a Teologia se curvou ao mesmo, precisamos voltar nossos olhos aos ensinamentos de Cristo e dos seus apóstolos para que não venhamos a ser destruídos pelo “ monstro” da cobiça e da avareza, os quais já fizeram muitas baixas nos arraiais cristãos. As palavras de Cristo “acautelai-vos” e “guardai-vos” devem ter um peso judicioso em nossas mentes e precisam ser tratados com santo temor e tremor, haja vista que emitem a preocupação divina que tem como principal escopo a preservação de nossas almas. Que a admoestação do apóstolo Pedro em sua primeira carta esteja sempre presente em nossos corações. Leiamo-la: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma ” (1 Pe 2.11).
REFERÊNCIAS
ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger. Comentário
Bíblico Pentecostal. 1
ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
BARCLAY, William. Comentário do Novo
Testamento
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