Por Luiz Fernando Janot
Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser tudo apenas um caso de polícia
Cavalcanti |
Basta
abrir o jornal ou assistir ao noticiário pelos meios virtuais de comunicação
para constatar que no Brasil se mata desvairadamente, se rouba sem o menor
escrúpulo e se mente com a mais absoluta desfaçatez. Reverter esse estado de
coisas vem esbarrando na atitude indiferente de uma boa parte da população que
parece estar pouco se lixando para o que acontece ao seu redor. Alguns chegam
ao cúmulo de reverenciar bandidos, especialmente aqueles que cometem os
indefectíveis crimes de colarinho branco.
Em
sociedades marcadas por grandes desigualdades, a violência apresenta
características, muitas vezes, difíceis de serem compreendidas.
Independentemente dessa particularidade, é preciso dizer, em alto e bom tom,
que sem segurança dificilmente uma cidade conseguirá prosperar condignamente.
Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos, respeitando as leis e os
costumes vigentes, vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que
julgam ser tudo apenas um caso de polícia.
Na
verdade, qualquer modelo de segurança pública só será eficaz se for compreendido,
assimilado e compartilhado solidariamente por toda a sociedade. Apesar de
algumas críticas feitas ao modo de agir das polícias de Nova York, Barcelona ou
Londres, não se pode negar que essas grandes cidades conseguiram acabar,
efetivamente, com os graves problemas de segurança que atormentavam a vida
cotidiana das suas populações. A presença ostensiva do policiamento nas ruas e
a aplicação rigorosa das leis contra delitos de diferentes naturezas trouxeram,
de fato, resultados extraordinários para elevar a tranquilidade nos seus
espaços urbanos.
Não
há a menor dúvida de que os assaltos recorrentes a pedestres e a passageiros de
transportes coletivos provocam, além das perdas materiais, inúmeros problemas
de ordem comportamental e psicológica. Quando tais ações adquirem um caráter
generalizado, elas expõem a incapacidade das autoridades constituídas de fazer
valer o ordenamento jurídico, os direitos dos cidadãos e os interesses da
própria sociedade.
No
Brasil, lamentavelmente, faltam recursos e planejamento integrado para
reverter, no curto prazo, o quadro de violência que assola a maioria das nossas
cidades. Diante desta situação, despontou o rentável negócio da segurança
privada. A participação de policiais nessas empresas particulares gera uma promiscuidade
difícil de ser evitada. Nessa circunstância, não faltam exemplos de policiais
que agem ao arrepio da lei. Entre os seus desvios de conduta, destaca-se a
formação de milícias como a sua mais nítida expressão.
As
Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas em diversas comunidades do Rio
com o objetivo de libertá-las do controle dos traficantes e dos milicianos, se
veem ameaçadas pela inépcia do Estado em cumprir as suas obrigações sociais
para complementar e consolidar esse programa inovador de segurança pública. Ao
relegar tal iniciativa ao segundo plano, o poder público ignorou a necessidade
urgente de promover melhorias urbanas e habitacionais nas comunidades
pacificadas. Era óbvio que a presença isolada da polícia não seria suficiente
para alterar o quadro desolador verificado nesses territórios da cidade. Se não
adotarem medidas abrangentes para suprir a falta de infraestrutura urbana em
nossas favelas, dificilmente será alcançada a pacificação desejada.
É
bom que se diga que os altos índices de criminalidade no Brasil não se devem
exclusivamente à presença dos escandalosos contrastes sociais, econômicos e
culturais. Devem-se, também, à degradação dos espaços públicos, à falta de
policiamento nas ruas, à morosidade da Justiça na aplicação das leis, à certeza
da impunidade, às péssimas condições dos presídios e dos abrigos para jovens
infratores, ao despreparo da grande maioria dos policiais e à corrupção
generalizada que se disseminou por todos os cantos do país. Reverter essa
situação é fundamental para evitar que as nossas cidades, com o passar do
tempo, incorporem certas mazelas que atualmente se encontram espalhadas pelo
planeta.
Basta
abrir o jornal ou assistir ao noticiário pelos meios virtuais de comunicação
para constatar que no Brasil se mata desvairadamente, se rouba sem o menor
escrúpulo e se mente com a mais absoluta desfaçatez. Reverter esse estado de
coisas vem esbarrando na atitude indiferente de uma boa parte da população que
parece estar pouco se lixando para o que acontece ao seu redor. Alguns chegam
ao cúmulo de reverenciar bandidos, especialmente aqueles que cometem os
indefectíveis crimes de colarinho branco.
Em
sociedades marcadas por grandes desigualdades, a violência apresenta
características, muitas vezes, difíceis de serem compreendidas.
Independentemente dessa particularidade, é preciso dizer, em alto e bom tom,
que sem segurança dificilmente uma cidade conseguirá prosperar condignamente.
Assegurar o convívio pacífico nos espaços públicos, respeitando as leis e os costumes
vigentes, vai muito além do imediatismo preconizado por aqueles que julgam ser
tudo apenas um caso de polícia.
Na
verdade, qualquer modelo de segurança pública só será eficaz se for
compreendido, assimilado e compartilhado solidariamente por toda a sociedade.
Apesar de algumas críticas feitas ao modo de agir das polícias de Nova York,
Barcelona ou Londres, não se pode negar que essas grandes cidades conseguiram
acabar, efetivamente, com os graves problemas de segurança que atormentavam a
vida cotidiana das suas populações. A presença ostensiva do policiamento nas
ruas e a aplicação rigorosa das leis contra delitos de diferentes naturezas
trouxeram, de fato, resultados extraordinários para elevar a tranquilidade nos
seus espaços urbanos.
Não
há a menor dúvida de que os assaltos recorrentes a pedestres e a passageiros de
transportes coletivos provocam, além das perdas materiais, inúmeros problemas
de ordem comportamental e psicológica. Quando tais ações adquirem um caráter
generalizado, elas expõem a incapacidade das autoridades constituídas de fazer
valer o ordenamento jurídico, os direitos dos cidadãos e os interesses da
própria sociedade.
No
Brasil, lamentavelmente, faltam recursos e planejamento integrado para
reverter, no curto prazo, o quadro de violência que assola a maioria das nossas
cidades. Diante desta situação, despontou o rentável negócio da segurança
privada. A participação de policiais nessas empresas particulares gera uma
promiscuidade difícil de ser evitada. Nessa circunstância, não faltam exemplos
de policiais que agem ao arrepio da lei. Entre os seus desvios de conduta,
destaca-se a formação de milícias como a sua mais nítida expressão.
As
Unidades de Polícia Pacificadora, implantadas em diversas comunidades do Rio
com o objetivo de libertá-las do controle dos traficantes e dos milicianos, se
veem ameaçadas pela inépcia do Estado em cumprir as suas obrigações sociais
para complementar e consolidar esse programa inovador de segurança pública. Ao
relegar tal iniciativa ao segundo plano, o poder público ignorou a necessidade
urgente de promover melhorias urbanas e habitacionais nas comunidades
pacificadas. Era óbvio que a presença isolada da polícia não seria suficiente
para alterar o quadro desolador verificado nesses territórios da cidade. Se não
adotarem medidas abrangentes para suprir a falta de infraestrutura urbana em
nossas favelas, dificilmente será alcançada a pacificação desejada.
É
bom que se diga que os altos índices de criminalidade no Brasil não se devem
exclusivamente à presença dos escandalosos contrastes sociais, econômicos e
culturais. Devem-se, também, à degradação dos espaços públicos, à falta de
policiamento nas ruas, à morosidade da Justiça na aplicação das leis, à certeza
da impunidade, às péssimas condições dos presídios e dos abrigos para jovens
infratores, ao despreparo da grande maioria dos policiais e à corrupção
generalizada que se disseminou por todos os cantos do país. Reverter essa
situação é fundamental para evitar que as nossas cidades, com o passar do tempo,
incorporem certas mazelas que atualmente se encontram espalhadas pelo planeta.
Luiz Fernando Janot é arquiteto e urbanista
lfjanot@superig.com.br
JANOT, Luiz Fernando. Violência Banalizada. O Globo. Rio de Janeiro, p.19. 24 de outubro. 2015
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