Por Geovani F. dos Santos
Perguntamo-nos
às vezes estupefatos: Que mundo é este em que vivemos? Talvez um tanto
sobressaltados diante de tantos acontecimentos mórbidos, tais perguntas nos assaltem
num rompante de reflexão sobre os fatos insólitos que se dão em nosso
cotidiano. Na verdade, rejeitamos aceitar a feiura das coisas e o estado anômalo
que se desenha porque simplesmente os consideramos surreais. É como se despertássemos
de um sonho e percebêssemos de que tudo aquilo que está apenas no mundo onírico
de repente é pura realidade. Relutamos num primeiro momento em aceitar as
imagens disformes e a negação é maneira mais fácil de se fazer isso. Se não
podemos acabar com as disformidades que nos assustam, pelo menos tentamos
ignorá-las de alguma forma.
A
nossa sociedade tem sido acometida de todos os lados por terríveis espectros de
maldade, os quais trouxeram uma gama de pessimismo aos cidadãos que a compõem e
se sentem acuados sobremodo em seu cotidiano, premidos pela violência e
incertezas, geradoras de angústia e ansiedade. Não podemos fazer vistas grossas
para o problema porque ele nos salta aos olhos a todo o tempo e é impossível
fugir dele, pois faz parte já de uma conjuntura há muito incrustada no tecido
social e que cobra um ônus pesado de todos os indivíduos imiscuídos neste
microcosmo.
O
que falar quando vemos uma criança que deveria estar na escola empunhando um fuzil,
furtando nas esquinas ou mesmo matando a sangue frio nos semáforos? O que dizer
de um país onde grande parte de seus moradores vivem na miséria e uma minoria
de privilegiados consegue ascender socialmente? Os meninos que se tornaram “aviõezinhos”
são o produto da iniquidade do estado, que se nega a implementar políticas
justas que arranquem da indigência este exército de rostos esquálidos e lhes dê
um mínimo de dignidade.
O
mesmo estado que deveria primar pelo bem-estar do cidadão e conceder aos mesmos
uma chance de melhoria de sua condição, acaba por ser tornar o algoz dos que,
não assistidos pelo mesmo, descambam para o crime e uma vida de delinquência. Uma
vez que não se ofereceu as oportunidades necessárias, agora tem que se desdobrar
para aumentar o aparato ostensivo de segurança, haja vista que a hediondez das
práticas criminosas se intensifica vertiginosamente, representadas por um bando
de malfeitores contumazes para os quais a lei é apenas uma abstração e nada
mais. A nossa sociedade tornou-se escrava da anomia generalizada, insuflada por
leis frouxas e inócuas, as quais não punem com severidade o transgressor e
tampouco recuperam os que cometeram ilicitudes. O resultado deste conjunto de
coisas é a explosão da criminalidade, que embasada e fiada na pusilanimidade de
legislações draconianas e obsoletas tem caminho aberto para perpetuar o caos
indefinidamente.
Não
existe panaceia capaz de extirpar o problema brasileiro, porquanto as medidas
tomadas pela nação, são apenas paliativas e não decisivas para o enfrentamento definitivo
dos processos de iniquidade social que acomete as populações mais pobres, que,
por serem mais marginalizadas, acabam por se tornar os “bois de piranha” da
política de cerceamento e segregação impingidas pelos figurões do poder, os
quais são os guardiões do atraso coletivo e do declínio de nossas instituições,
maculadas pela incúria daqueles que se dizem seus representantes. Enquanto não
abrirmos os olhos ou o entendimento sobre o real problema e as suas causas, não
teremos a possibilidade de reverter o cenário manchado de sangue e de malignidade
social que atravanca o nosso desenvolvimento como nação minimamente civilizada.